sexta-feira, 19 de setembro de 2008

A RIBEIRA QUENTE E OS ATAQUES DA PIRATARIA ARGELINA


"Os Argelinos em 1679 desembarcando à noite de dois xavecos, saltaram na praia da Ribeira Quente, e no portinho do Agrião; contornaram a montanha, e descendo ao raiar da aurora o Vale das Furnas, roubaram alguns carneiros, e volveram para bordo dos xavecos, depois de terem praticado alguns latrocínios na Ribeira Quente.
Os pescadores da Ribeira Quente dando disto aviso aos povos de Ponta Garça, e Vila Franca, marcharam com alguma tropa a estes lugares; porém como as antigas estradas, ou melhor diremos, péssimos carreirinhos, haviam sido obstruídos pelos tremores e cinzeiro do ano de 1630, seguindo a tropa tortuosas veredas, chegou quase à tarde, hora em que nem no horizonte já viam os xavecos.
Indo a Vila Franca, em correição, o Desembargador Luiz Mattoso Soares, assim se expressou no ano de 1682: 'Fui informado que o caminho da Gaiteira para a Ribeira Quente é tão importante, que está provido em muitas correições que se faça o dito caminho, sem até agora se dar comprimento a eles, e tudo se resume em requerimentos, sem se obrar cousa alguma, e ouvidas as dificuldades e a importância deste caminho, não somente necessário para a passagem dos moradores, mas também importante para a defesa desta ilha, para se poder acudir à invasão dos inimigos, que poderão fazer por aquela parte, como se tem experimentado haver entrado os Mouros naquele porto, sem se poder acudir a este dano com a prontidão necessária, por falta do devido caminho que vai para a Povoação; e se me fez queixa, pelo Pároco do lugar de Ponta Garça, que alguns fregueses morreram sem sacramentos por falta destes caminhos; e por eles Oficiais da Câmara, e pessoas da Governança, que se acharam presentes, foi dito: que o dito caminho se poderia fazer com a despesa de 20$000 réis pouco mais, com a ajuda das companhias daquele distrito, o qual caminho se devia fazer com mais conveniência e segurança, por onde se chama a Grota da Amora, até sair aonde se chama a Lobeira, e o Forno, o qual caminho serão obrigados mandar fazer os Oficiais da Câmara.'"

(extraido de Bernardino José de Sena Freitas, Uma Viagem ao Valle das Furnas na Ilha de São Miguel, em Julho de 1840, pp. 7-19, Imprensa Nacional, Lisboa)

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

A CRIAÇÃO DA FREGUESIA DA RIBEIRA QUENTE / COMPLEMENTO HISTÓRICO


A Ribeira Quente foi elevada à categoria de freguesia a 24 de Junho de 1943 pelo decreto-lei n.º 32867 da então Direcção Geral da Administração Política e Civil do Ministério do Interior. No despacho ministerial lê-se o desejo dos chefes de família eleitores na criação de uma nova freguesia "alegando para isso razões de ordem económica e administrativa e demonstrando a conveniência que adviria para a população se se criasse a circunscrição administrativa como desejavam". O despacho é assinado por várias entidades, entre as quais destaque-se o Presidente da República Marechal Óscar Carmona, o chefe de governo António de Oliveira Salazar e vários ministros de então, entre os quais, destaque-se, os do Interior, Mário Pais de Sousa, e das Obras Públicas, Duarte Pacheco.
Este desejo antigo do povo da Ribeira Quente muito ficou a dever-se aos esforços e ao entusiasmo generoso do seu Pároco de então, o Padre José Jacinto da Costa. É grande, por isso, o jubilo do Pároco que escreve no Livro de Tombo da Paróquia: "Desde há muito estava no ânimo deste povo desmembrar este lugar da freguesia a que pertencia, Mãe de Deus da Vila e Concelho de Povoação, já pela distância que os separa da referida freguesia, já pelas regalias que adviriam pela criação de uma nova freguesia, tendo este assunto sido debatido em anos anteriores (no tempo em que os Drs. Francos da Ribeira Grande andavam no Parlamento), sem que obtivessem o resultado desejado".
O Padre José Jacinto da Costa faz questão de deixar consignado no Livro do Tombo da Paróquia o nome daquele que com a "melhor vontade" redigiu o requerimento com a petição ao Ministro do Interior para elevação da Ribeira Quente a freguesia (documento escrito dois anos antes, a 18 de Junho de 1941): é ele o doutor Caetano José Travassos de Lima, conservador do Registo Predial de Povoação, "a quem este povo pela voz do seu pároco rende as suas mais sentidas homenagens e agradecimentos."
Todavia, refere-se no mesmo Livro de Tombo, vontades e influências se movimentaram para que a Ribeira Quente se elevasse à categoria de freguesia. É o próprio Padre José Jacinto da Costa que o atesta: "Depois de enviado o requerimento supra ao seu destino, a pedido do pároco actual, conjugaram-se algumas influências para o deferimento favorável junto daquele membro do Governo, como foram: o Governador Civil efectivo, o Capitão de Cavalaria Rafael Sérgio Vieira; o Governador substituto, Doutor Hermano de Mendonça Dias; o Deputado por este círculo, Engenheiro António Hintze Ribeiro e seu tio, o grande benemérito Doutor Guilherme Poças Falcão".
Mas ao lado destas boas vontades haviam, também, como sempre, as más vontades. E o Padre José Jacinto da Costa não se coíbe, com coragem, de lavrar em acta o seguinte desabafo: "Ao lado destas boas vontades, havia más vontades, que se opunham à criação desta freguesia, alegando que a Ribeira Quente não possuía gente competente para formar uma Junta de Freguesia (a Câmara da Povoação). Deve ficar registado neste livro que nesta data não era intenção do Governo criar mais freguesias, mas a boa estrela protegeu este nosso desiderato."
É o próprio Padre José Jacinto da Costa que a 26 de Maio de 1943 recebe do deputado pelo círculo da ilha de São Miguel, António Hintze Ribeiro, em forma de telegrama, a boa notícia do despacho governamental, ainda antes da sua promulgação no Diário da República: "Felicito Vossa Excelência e Povo pela nova freguesia criada. Foi assinado Decreto por Sua Excelência o Ministro a quem devem agradecimentos, assim como a Sua Excelência o governador do Distrito, cumprimentos, António Hintze Ribeiro, Deputado da Nação".

terça-feira, 16 de setembro de 2008

VISITA PASTORAL DE 2002 - D. ANTÓNIO SOUSA BRAGA


Nos dias 29 e 30 de Novembro de 2002, fiz a Visita Pastoral à Paróquia da Ribeira Quente. Depois da recepção à porta da igrej paroquial, presidi à Celebração Eucarística, com uma assembleia que praticamente enchia a igreja.
No primeiro dia, tive um encontro com os alunos e professores da Escola, todos reunidos no edifício do Fogo. As crianças cantaram e eu pude dialogar e rezar com elas.
Visitei igulmente o Centro Social Paroquial, onde contactei com as crianças do ATL e as senhoras do artesanato.
O Centro Social Paroquial tem prestado um relevante serviço de promoção humana na freguesia, sob a orientação do Pároco, o Padre Silvino Amaral, que tem acompanhado o seu desenvolvimento, desde os patamares de pobreza e de miséria, até à situação actual de desafogo e bem estar.
A sua função foi determinante, por ocasião da catástrofe de 31 de Outubro de 1997, seja como apoio logístico, seja como instituição que apoiou e coordenou as ajudas.
Terminei o dia com a visita à Junta de Freguesia, ao porto e à Cooperativa dos Pescadores.
A freguesia transformou-se totalmente, também no seu aspecto externo. Ficou com um óptimo porto e uma admirável orla marítima. Todas as famílias sinistradas têm a sua situação habitacional resolvida. Não se tornou a construir no local sinistrado, mas atribuiram-se casas noutros locais.
No segundo dia, visitei os doentes e idosos acamados, que apreciaram, como sempre, o diálogo e o momento de oração. De assinalar a abertura e a expressividade das crianças, a denotar um bom nível de socialização.
À tarde, reuni-me com os membros do Conselho Pastoral, com representantes dos vários movimentos e grupos paroquiais. Do diálogo resultou o seguinte quadro de vida paroquial:
A Catequese está organizada, conforme o itenerário operacional de 10 anos. Há 13 catequistas para 137 crianças. Há salas próprias para Catequese, ao lado do Centro Social Paroquial.
Há rotativamente reuniões semanais de catequistas, ACR e Reflexão Bíblica, uma vez que são as mesmas pessoas que integram estes grupos, que, assim se apoiam reciprocamente a nível formativo.
Funciona um agrupamento do CNE, com sede própria muito boa. São 70 elementos, entre os quais se contam 18 chefes, o que por si, já constitui uma proeza. O agrupamento está muito ligado à freguesia e à Paróquia, numa feliz coperação. Muitos jovens têm passado ou foram atingidos pelo espírito Escuta. Tem havido muito intercâmbio com os agrupamentos do Continente e das outras Ilhas.
Há um Grupo de Jovens, com 13 elementos, animado pelo Márcio Pimentel. Tem promovido algumas iniciativas, como por exemplo a Semana da Palavra e a publicação do Boletim Paroquial O Búzio. Está prevista a montagem de uma Creche, a funcionar durante a Missa, para cuidar das crianças até aos seis anos.
Desde 2001, relançou-se o Rancho de Romeiros, que tem mantido reuniões mensais de formação, além da preparação imediata para a Romaria.
Foi também renovado o Grupo Coral, integrano, além dos adultos, também crianças e jovens. Reunem-se duas vezes por semana para prepararem o canto e as leituras.
A Liga Eucarística, embora um pouco esmorecida, continua a reunir-se uma vez por mês. A Legião de Maria é que, praticamente, está inactiva, uma vez que os seus membros estão integrados noutros grupos.
Há uma Equipa de Formação, que cuida dos CPB e CPM, das Assembleias Paroquiais e de outras eventuais acções de formação.
Todos os Domingos reune-se o Grupo de Oração Neo-Carismática com o seu espírito de oração dentro de uma espiritualidade renovada, assente na fé e acção do espírito Santo.
Três Ministros Extraordinários da Comunhão visitam semanalmente os doentes e idosos acamados.
Apesar do Núcleo Cáritas não estar muito activo, neste momento, há grande acção social, através da Acção Católica, que teve grande implantação na Paróquia e, sobretudo, através do Centro Social Paroquial, que, além das valências actuais, tem-se habilitado a vários programas financiados pela UE, que muito têm beneficiado a população.
Resumindo e concluindo, apesar de todos os condicionalismos da época actual, a Paróquia mantém-se viva e tem muita gente empenhada, que celebra generosamente com o Pároco, bem aceite e muito apreciado.
Aqui é bem visível a presença significativa da Igreja, não só pela sua actividade religiosa, mas também pela sua acção, em favor da promoção humana. A Igreja, através do Pároco e do Centro Social Paroquial, foi acompanhando e conduzindo o desenvolvimento da comunidade local. Os grandes passos, as grandes conquistas da freguesia foram acontecendo sempre com o apoio e a partir da iniciativa da Igreja. Isto deve-se muito ao empenho do Pároco, o Padre Silvino Amaral.
Está, pois, de parabéns, com toda a sua comunidade paroquial.
Em perspectiva de futuro, apoio claramente a intenção de adquirir o prédio ao lado do Centro Social Paroquial. É uma boa oportunidade, que vem enriquecer o património paroquial, abrindo a possibilidade a iniciativas futuras. O financiamento de compra pode ser feito com a venda do Passal e do terreno anexo. Se isso não for possível, por falta de comprador, há a possibilidade de contrair empréstimo bancário, com o aval da Diocese. Infelizmente a Diocese, neste momento, não pode dar um contributo directo, porque está empenhada na construção dos Centros Pastorais de Ilha e na reconstrução das igrejas do Pico e do Faial, danificadas pelo sismo de 1998. Seja como for, o assunto merece toda a consideração.
A Visita terminou com a celebração do Sacramento do Crisma, cerimónia bem preparada, muito animada e participada.
Que o senhor, por intermédio de São Paulo e de Nossa Senhora da Graça, a todos abençoe.

António, Bispo de Angra

VISITA PASTORAL DE 1984

Fiz Visita Pastoral à paróquia de São Paulo da Ribeira Quente, ilha de São Miguel, no dia 18 de Janeiro de 1984.
Muito povo se associou a todos os actos da mesma, manifestando sua fé e boa índole cristã, bem como os sentimentos do seu coração simples.
Na eucaristia, com o Templo repleto de fiéis, quase todos participando com entusiasmo e fervor na oração, no canto e na comunhão - o que sublimo com apreço - se celebrou o Sacramento da Confirmação.
Visitei, após o almoço, os doentes da paróquia, todos com sentimentos piedosos e que são cuidadosamente assistidos pelo Rev. Padre Silvino Amaral, Pároco.
Pude verificar que existe alguma carência na casa de alguns, sendo de esperar que lhes não falte o apoio e ajuda de outros irmãos na fé.
Igualmente verifiquei que este povo, bom, trabalhador no mar e na terra, está longe de ser bem servido no que se refere a estruturas de base, como saneamento, água corrente e ruas devidamente pavimentadas, sendo de esperar das entidades oficiais - concelhias e regionais - o maior interesse e cuidado em ocorrer a tais carências, que hoje, felizmente, já não se verificam em muitas terras da ilha.
A união de boas vontades das gentes de Ribeira Quente com sua Junta de Freguesia poderá influir na solução rápida de problema de tal importância.
Por outro lado, parece também impor-se a união de quantos trabalham no mar para obterem o maior rendimento possível do fruto do seu esforçado trabalho, para isso organizando-se em estruturas de conservação e de distribuição e venda de pescado. Não poderão aceitar passivamente que só outros beneficiem do que lhes custa tanto a conseguir, para tal havendo de unir esforços e tomar construtivas, que a própria doutrina social da Igreja aponta como caminho a seguir.
No pequeno salão paroquial, contíguo à Igreja, tive um demorado encontro com elementos de Obras e Movimentos paroquiais, estando igualmente presente muito povo, gentes de todas as idades.
A Catequese está bem organizada, com bom número de catequistas, todas com zelo e boa vontade, ainda que seja necessário, as que ainda o não fizeram, participarem em um curso de iniciação, e as que já frequentaram fazerem um curso elementar, para sentirem melhor preparação no desempenho de tão útil missão.
Bom será que também homens e rapazes, estes recrutados dentre os do grupo de jovens e dos que hoje se Confirmaram, venham a ser catequistas, até pelo testemunho positivo que tal facto representará.
Igualmente se impõe organizar o pré-catecismo e promover com regularidade encontros de pais, para estes poderem participar com interesse e maior conhecimento na preparação cristã dos seus filhos.
Para darem a catequese faltam salas em número adaptadas condições, o que virá a solucionar-se com o desejado salão paroquial, para o qual já há terreno e se iniciaram os primeiros passos quanto ao respectivo projecto, sendo de esperar que todos colaborem generosamente na sua edificação, quando iniciadas forem as obras. Uma obra de tal envergadura merecerá, por certo, o apoio das entidades oficiais da Região, que espero lhe não falte, sem dispensar o contributo dos paroquianos da Ribeira Quente.
A Liga Eucarística, para homens e senhoras, actua bem, sendo de desejar que alargue cada vez mais o sentido e espírito eucarístico entre o povo.
A Acção Católica Rural, com 17 senhoras, tem bom espírito apostólico e mantém louvável acção apostólica.
Bom será que outros elementos, mesmo homens, se lhe associem, para assim se desenvolver, como é preciso, autêntico apostolado no próprio meio, procurando cada um colaborar na valorização moral e espiritual da própria freguesia. É, aliás, esse um dever de todo o baptizado e, mais ainda, do que se confirmou.
Também a JACF - Juventude Agrária Católica Feminina - está dando seus passos promissores na mesma linha de apostolado entre os jovens da paróquia.
Preciso é que outros jovens venham participar em suas actividades, para se valorizarem cada vez mais e serem elementos dinamizadores e santificadores da Igreja a actuar entre a juventude da Ribeira Quente.
Oxalá que alguns dos que hoje se confirmam e outros se decidam a cooperar em tão valido Movimento.
Há um bom grupo de adolescentes que reúne com regularidade e exigentemente é acompanhado em sua formação cristã, o que merece encómio.
Também cerca de 3 dezenas de jovens se vão reunindo para estudo dos próprios problemas. Importará que cada qual tire um propósito de acção apostólica a desempenhar junto dos outros e disso lhe peçam conta na reunião seguinte, par estímulo de todos.
Começou há pouco tempo o CNE que conta com cerca de 50 elementos, tendo bom trabalho de formação e de campo, o que é de louvar. Oxalá possa ter em breve uma sede onde melhor possa acomodar-se para a sua formação.
Muito mais recente é a LIAM - Liga Intensificadora de Acção Missionária - que merece o apoio de todos no seu desejo de avivar em cada um o sentido missionário e a colaboração para a Obra das Missões - fundamental na vida cristã.
Tem bom número de elementos o grupo coral, a quem cabe ser exemplo e dinamizador de todo o povo na vivência do culto de Deus pela liturgia participada e vivida.
É preciso fazer pequenos ensaios com o povo para que todos participem sempre mais no canto.
Alguns leitores se encarregam das leituras na Eucaristia Dominical, o que é de louvar.
Trabalha em boa harmonia com o Rev. Pároco e com zelo o Conselho Administrativo, à sua frente temos agora a obra do salão paroquial, que Deus queira não demore muito a iniciar a sua construção, pela falta que faz.
Com louvor sublinho a existência do Conselho Pastoral de Paróquia para a coordenação de actividades comuns e dinamização dos Movimentos e Obras existentes.
Procurará, além de integrar os agora confirmados em Obras e Movimentos existentes, fazer com que se organizem grupos de casais para reunirem regularmente e se ajudarem no estudo e reflexão da espiritualidade própria, na acção de apostolado com os outros casais e na defesa da família e seus valores.
Também procurará que as viúvas se organizem no MEV - Movimento de Esperança e Vida, assim descobrindo o caminho próprio e se ajudando umas às outras.
Sobre Pároco e paroquianos invovo a benção de Deus.

Ribeira Quente, 18 de Janeiro de 1984

Aurélio, Bispo de Angra

VISITA PASTORAL DE 1979 - D. AURÉLIO GRANADA ESCUDEIRO


A 25 de Março de 1979, fiz a Visita Pastoral à Paróquia de São Paulo da Ribeira Quente, Ilha de São Miguel. Muito povo, praticamente todas as pessoas válidas, estiveram presentes, decorrendo a visita em ambiente de simplicidade, alegria e fervor religioso.
Na Eucaristia, que centralizou a Visita, houve celebração do Sacramento da Confirmação, parecendo boa a preparação dos confirmandos e a do povo em geral, pelo que felicito o Rev. Padre Silvino Amaral, Pároco, e quantos com ele cooperaram nessa preparação.
Visitei os doentes da paróquia, todos com boas disposições espirituais e que sei serem cuidadosamente assistidos pastoralmente.
Nota-se haver alguma pobreza, sendo as casas muitas delas necessitadas de melhorias gerais, muito se impondo um esforço comum das habitações e das ruas da freguesia. Unindo esforços, pedindo ajuda às entidades competentes, muito se poderá fazer, já que não faltarão boas vontades, capacidades de acção e de dedicação, da parte do bom povo da Ribeira Quente. Aparecendo alguns que comecem e dêem exemplo, outros os seguirão, por certo.
No Salão paroquial houve demorado encontro com representantes de Obras e Movimentos paroquiais.
O Conselho Administrativo da paróquia tem suas reuniões normais, colabora ordenadamente com o seu pároco e responsabiliza-se pela festa do Padroeiro. estuda-se presentemente a possibilidade de, a título precário e sem perda de direito de propriedade, se ceder um terreno para vir a servir para escola e jardim infantil.
O Conselho Pastoral de paróquia, de constituição recente, ensaia bons passos de acção.
A Catequese está bem constituída, embora precisasse de mais catequistas, sendo ideal que também homens e rapazes colaborem em apostolado tão importante, para isso se devendo oferecer e preparar. As crianças são assíduas.
Bom será fazer mais algumas reuniões para pais, além das que já se fazem; e é de desejar que, na medida do possível, se consigam meios audiovisuais para melhorar o ensino da catequese, além de adaptar salas para esse ensino.
A Acção Católica Rural (ACR) recomeçou há não muito tempo a sua actividade, o que é de louvar, esperando-se que mantenha o bom espírito apostólico e outras pessoas, inclusive casais, se inscrevam para não só exercerem um apostolado no meio, que é indispensável, mas se formarem humana e cristãmente.
Bom será que, com certa regularidade, façam reunião geral para filiadas e pessoas do meio, e cada militante procure actuar com o pequeno grupo do meio onde vive.
A JACF está organizando-se e matém suas reuniões regulares. Bom será que aprofunde a prática da revisão de vida e alargue cada elemento da sua acção ao trabalho dos grupos naturais.
Estes dois movimentos, com a colaboração dos demais existentes na paróquia, muito bem poderão fazer, sobretudo na formação humana e cristã das pessoas do meio, que amanhã poderão vir a ter acção de líderes junto da povoação, ajudando-a à necessária promoção humana e cristã. Farão isto sem em nada desviarem das suas finalidades apostólicas, mas precisamente seguindo o método dos movimentos a que pertencem.
Há razoável grupo de adolescentes, com reuniões regulares. Bom será que, pouco a pouco, esses adolescentes vão sendo lançados em acção apostólica à sua maneira.
Estão organizados os jovens que se reúnem por grupos de reflexão a que se seguem plenários para discussão dos temas. Mantendo esse ritmo, bom será procurarem esses jovens ter preocupação apostólica junto dos outros jovens e do meio em geral.
A Liga Eucarística tem razoável número de elementos, sendo fiel aos compromissos próprios, o que é de louvar.
O Grupo Coral tem certo nível e possibilidades, muito podendo ajudar o povo, que já participa, a melhorar a sua participação, para o que convirá promover pequenos ensaios com ele, aos Domingos.
Tem vida e actividade apreciável o CNE paroquial, muito se devendo esperar da sua acção. Merece a compreensão e apoio de todos.
Fez-se preparação dos jovens para o matrimónio, assim como a de pais e padrinhos para o baptismo de filhos e afilhados. É de esperar que alguns casais se ofereçam para, convenientemente preparados, poderem dar a sua necessária cooperação nesse importante trabalho, hoje só a cargo do Rev. Pároco.
Bom será retomar-se a organização de casais, com reuniões próprias em que muitos casais participem, assim se preparando para o cabal desempenho dos deveres de educadores da fé dos filhos e do testemunho como casais cristãos, além do cumprimento dos deveres próprios.
Para as viúvas, poderá organizar-se o MEV, que muito ajudará cada uma moral e apostolicamente.
Felicitando Pároco e paroquianos, mormente os mais responsabilizados, sobre todos invoco as melhores bençãos de Deus.

Ribeira Quente, 25 de Março de 1979

Aurélio, Bispo de Angra

ANO DE 1974 - ARQUIVO PAROQUIAL

Notas estatísticas: População, 1700; Catequese, inscritos, 312; Catequistas, 21; Baptismos, 44; Primeira Comunhão, 32; Profissão de Fé, 40; Total de Comunhões, 50.000; Casamentos, 18; Óbitos, 16.
Neste ano registaram-se as seguintes obras extraordinárias: Cimentação do Campo de Jogos e confecção de pequena estufa para plantas. Gastaram-se 50.000$00 nisto. Houve também a compra duma casa que pertence ao lote das casas compradas no ano anterior que custou 30.000$00.
O Rancho de Romeiros fez a sua romagem habitual pelo 2.º ano.
Recebeu-se a visita do Sr. Bispo Coadjutor D. Aurélio Granada, que veio particularmente numa atitude de serviço e contacto com a localidade e o seu Pároco.
Funcionaram os trabalhos de Pastoral a nível de Zona, como no ano anterior.
Registaram-se 2 acampamentos de jovens escuteiros, respectivamente de exploradores e lobitos, com êxito e colaboração de toda a paróquia.
Houve a visita pastoral do Sr. Bispo D. Manuel Afonso de Carvalho em 19.2.1974, que tomou um cunho de simplicidade e simpatia, com a confecção de 211 Crismas. Saiu a público no salão paroquial um grupo cénico, promovido pelos escuteiros.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

ANO 1970 / ARQUIVO PAROQUIAL


Notas estatísticas: População 1987; Fogos 450; Candidato ao Sacerdócio 1; Catequese, 325 inscritos; Catequistas, 27; Baptismos, 55; Comunhão, 32.600; Casamentos, 16; Óbitos, 19. Todos os organismos trabalharam com a vitalidade dos demais anos.
Há a registar que na noite de Natal houve um pequeno Auto comemorativo do Natal, levado a efeito pelos rapazes do C.N.E. e meninas adolescentes da J.C.F.
Foi feita a doação oral da terra situada em Ponta Garça, por António Jacinto Linhares e Maria Fernanda Curvelo, com o fim de todos os anos ao receberem-se as rendas a paróquia rezar pelos próprios e seus parentes.
Neste ano a Capela local começou por solenizar a última missa dominical, o que manteve até ao presente e pretende continuar.
Deu-se por completo o douramento do altar de Nossa Senhora de Fátima, último e mais dispendioso dos altares.
Foi substituído o canavial de protecção ao quintal nordeste do Passal, por muro em pedra e bloco.
Construídos 2 reservatórios de água; feita canalização em casa e quarto de banho; comprado cilindro de aquecimento e equipamento de cozinha e quarto de banho, bem como auto-bomba para condução da água ao nível da casa.
Abri diariamente a homens da comunidade, o Salão, com fim de recrear e desenvolver convívios são pela leitura, desportos e reuniões. A afluência foi compensadora com a presença média de 20 pessoas.

ANO 1969 / VISITA PASTORAL

No dia 20 de Fevereiro de 1969, visitei mais uma vez a Paróquia de São Paulo Ribeira Quente e grande foi a minha alegria por verificar que este bom povo continua firme na sua fé. Verdadeiramente o espírito de Deus reina e acalenta os corações. Em qualquer local da terra, onde se encontre um filho da Ribeira Quente, aí estará um homem de crença firme, amigo de Deus e, nesta certeza, todos caminham radiantes para a Pátria, que nos espera, o Céu. Felicito o Rev. Padre Silvino Amaral e todos os bons paroquianos, que com ele colaboram.
Continuai, pois, nos vossos sentimentos dos portugueses do séc. 15, que pela primeira vez, povoaram esta linda terra e, assim, sereis felizes.
Deixo-vos uma benção ampla e peço ao Senhor que sempre vos proteja.

Manuel Afonso de Carvalho, Bispo de Angra

ANO 1968 / ARQUIVO PAROQUIAL

Em Janeiro foi oferecida à Igreja terra sita ao Mato Barreto com a dimensão de 3 alqueires de José Melo Melão.
Que prossegue o entalhamento do Altar de Nossa Senhora de Fátima.
Que se completou uma dependência no lado poente da igreja, com o comprimento de 23 metros e largura de 6 metros, a qual se assemelha a um Salão Paroquial. Este foi inaugurado em 10 de Novembro, aquando da promessa dos Lobitos do C.N.E.
Que anexo à dependência supra se inaugurou um campo de pequenos desportos apropriado ao andebol, basquete e futebol salão.
Que se fez o primeiro juramento da F.A.C.F.
Que em 14 de Julho se realizou encontro da J.A.C., com a J.A.C.F. no Salão, e nas vésperas encontro no Agrião e depois na Lagoa das Furnas.
Que se deu passeio de camioneta até às Sete Cidades e Mosteiros, com músicos da Capela.
Que pregaram pelo Lausperene: Padre Agnelo Soares Almeida; festa de São Paulo, Padre Benjamim Pimentel Cabral; ofício de Almas Padre João Mota.
Funcionaram todos os organismos existentes.
Comungaram 24.987 vezes.

VISITA PASTORAL DE 1964

Mais uma vez a Ribeira Quente deu mostras da fé viva que acalenta os corações; grande, na verdade, é a fé deste povo e a sua dedicação à Igreja! Não podemos esquecer o entusiasmo e o carinho como os bons homens nos foram esperar em extenso cortejo, no início da paróquia. Sempre esta terra será abençoada pelo Divino Espírito Santo, que reina em todos os corações. Na terra ou sobre o mar, nos trabalhos e nos perigos, sempre a alegria existirá nas nossas almas.
Felicitamos o Rev. Padre Silvino Amaral e todos os que com ele colaboram com os seus trabalhos e sacrifícios. Sabemos que todos os bons filhos da Ribeira Quente estão inscritos na O.V.S. e não se esquecem de rezar pelo nosso Seminário e para a santificação dos sacerdotes e seminaristas, o que é penhor certo de que sempre terão um sacerdote santo a indicar-lhes o caminho do bem.
Deixamos uma benção ampla e com ela o nosso coração de Pastor agradecido.

Ribeira Quente, 14 de Fevereiro de 1964

Manuel Afonso de Carvalho, Bispo de Angra

ANO 1962 / ARQUIVO PAROQUIAL

No ano de 1962 registaram-se 431 fogos; 76 baptismos; 21 casamentos; 14 óbitos; 376 crianças inscritas na catequese, num total de 2.330 almas. Houve 16.799 comunhões. O rendimento disponível da Igreja 37$521.72; a percentagem diocesana foi de 4$169.08. O produto dos indultos pontifícios foi de 953$50. Houve 200 inscritos na Liga Eucaristica dos Homens, com missa celebrada mensalmente pelos cotizantes. Fez-se o terço colectivo dos homens com prática de formação no dia 13 de cada mês. Foi normal a vida da L.A.C.F., J.A.C. e J.A.C.F. Celebraram-se as festividades do Divino Espirito Santo, promovidas pela mesa da Irmandade para tal erecta. Nas festividades do orago foi pregador o Rev. José Ribeiro Martins. Fez-se o Lausperene com tríduo preparatório e missa cantada no dia final; o pregador foi o Rev. Padre Hermenegildo Oliveira Galante. Pelo ofício solene pelos defuntos da paróquia pregou o Rev. Padre João Raposo Leite. Celebrou-se com a pompa habitual o mês de Maria, do Rosário, de São José, das Almas, do Sagrado Coração de Jesus. Fizeram-se as novenas do Natal, Nossa Senhora da Conceição e do Espírito Santo. Os enfermos foram uma vez visitados solenemente e amiudadas vezes particularmente. Nos Domingos e Festas da Quaresma houve via sacra. Fizeram-se reuniões do curso pré-matrimonial, de mães e de catequistas. Foi fundada a O.V.S. Durante este ano foi concertado o passal com a construção de um quarto de banho, loja para despejo, muralha de protecção, currais, galinheiro e cimentação do pátio de trás. A Igreja foi retelhada, caiada e pintada de novo. Finalmente foi cimentado todo o adro.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

A IDA DA IMAGEM DE SÃO PAULO À POVOAÇÃO NO CENTENÁRIO DA IGREJA MATRIZ - 1956


No dia trinta de Setembro do corrente ano comemorou a Vila da Povoação a data do primeiro centenário da sua muito linda e rica Igreja Matriz. Templo magnífico que neste dia ostentava as suas mais vistosas alfaias e que depois de restaurado ficou a dever toda a sua beleza ao respectivo Vigário e Ouvidor o Rev. Padre João Maurício de Amaral Ferreira.
A Ribeira Quente também tomou parte activa nesta grandiosa festividade, que certamente durará por muitos anos na memória das gerações presentes e na imaginação das que lhes sucederem, por tal lhes terem relatado.
Amanheceu o dia trinta, sombrio, chuvoso e rajadas de vento muito fresco do quadrante lés-sudeste.
Logo manhã cedo já no porto desta localidade havia grande azáfama entre os marítimos que engalanavam vistosamente as respectivas embarcações. Ranchos de forasteiros, a despeito da chuva miudinha e continuada, largavam em debandada para a Povoação. Com efeito a Capitania do porto não autorizara a ida de pessoas sem que estas possuíssem cédula marítima. Após a missa da manhã largou a imagem veneranda do nosso Padroeiro São Paulo a caminho do porto, onde aguardava grande multidão e o barco que a transportaria até à Povoação. Foi este escolhido por sorteio e que veio a cair no barco do falecido Manuel Louro e tendo como arrais próprio António do Rego. Lá fora na baía o mar estava revolto e nela unicamente se encontravam ancorados os barcos a motor das companhias Lory e João Carreiro, e que eram ao todo cinco, todos do comando de arrais desta freguesia. Após a missa do dia, eram então cerca de onze horas, o mar acalmou um tanto e nessa ocasião recebia eu chamada telefónica do muito Reverendo Ouvidor, que apesar do enorme trabalho que o rodeava, ainda queria inteirar-se do que por cá sucedia. resolvemos saber das condições do mar da Povoação, porque daqui, mal a imagem de São Paulo ao sair da residência do senhor Abel Inácio e que vinha lindíssima, afim de ser colocada no barco escolhido para tal, os homens do mar, num como que grito uníssono exclamaram "Vamos embora, ala barcos à água!" E imediatamente uns após outros lá galgaram as ondas rendilhadas de espuma, rompendo as águas marinhas, que em cachões lhes lavavam os leitos da proa e encharcavam as tilhas.
Começaram a atracar os barcos da pesca aos outros motorizados que se encontravam fundeados na baía.
Era lindo e digno de registo o espectáculo que a nossos olhos se oferecia. Em terra aproximava-se do mar o barco transporte da imagem do nosso Padroeiro. A multidão comprimia-se, e em toda a faixa litoral completamente apinhada de gente, milhares de lenços, como garças de alvor arminho adegando sem cessar; viam-se lenços de todos acenando adeus ao seu padroeiro, enquanto que marejados de lágrimas os velhos saudosos dos que ficavam, e de comoção inexplicável os dos que partiam. Milhares de foguetes e morteiros estrujiram os ares, na altura em que São Paulo, sem um único respingo do mar, entrou mar adentro, lembrando assim as viagens que outrora fizera em pessoa, afim de "pregar a Jesus O Crucificado."
Hasteada no mastro altaneiro da embarcação que conduzia o Padroeiro, ia a bandeira auri-branca da Igreja Católica. Na mesma embarcação a respectiva tripulação, o Pároco, o seminarista João Jerónimo e os calafates da minúscula embarcação que seguravam o andor de São Paulo. Dada a ordem de marcha pelo pároco, todas as embarcações, em duas grandes indo ao centro, e um pouco para ré, a de São Paulo, descreveram uma curva graciosa ficando a terra primeiro a sotavento e depois a barlavento. De todas as naves da escolta subiam aos ares muitos foguetes e morteiros alguns destes de grande potência. Ao dobrarmos a Ponta do Garajau, já lá ao longe se divisava a enorme massa humana que se postara no litoral da Povoação esperando ansiosamente a nossa chegada.
À maneira que nos fomos aproximando mais e mais se divisava o colorido mitigado das gentes em expectativa na praia. Como íamos um pouco mar adentro, afim de melhor aproar ao vento, todas as caras estavam voltadas para bombordo e lágrimas quentes de alegria rolavam soltas pelas faces vincadas e curtidas destes homens do mar, gente crente, rude como as tempestades, mas simples, desafectados e sinceros. O desembarque foi maravilhoso e sem novidade. A Procissão na Vila da Povoação o mais imponente que podemos imaginar. O Reverendo Ouvidor radiante, o tempo, associando-se a toda esta festividade, amainou o vento, o sol brilhou e o mar serenou, quis assim com esta orquestra de elementos naturais dar a sua quota parte a esta celebração memorável.
Às vinte e três horas, ou vulgarmente dizendo, às onze horas da noite, estávamos de regresso à nossa Paróquia.
São Paulo, dizia-nos com graça o Ex.mo Governador Civil deste Distrito, senhor Dr. Carlos de Paiva, "FOI O SANTO DO DIA." E com efeito por toda a parte atraía para o seu andor os olhares dos fiéis, e sobretudo a curiosidade das criancinhas embevecidas, ao verem os apetrechos de pesca em miniatura, que se encontravam no barquinho do seu andor. Uma banda de música acompanhou-nos até ao cais. A multidão de novo nos acompanhou e sempre as mesmas lágrimas, a mesma fé e as mesmas cenas comoventes à roda da veneranda imagem do nosso querido São Paulo. O barco vai entrar na água, e o povo, na sua fé para com São Paulo, deseja uma recordação... de São paulo. Arrancam-lhe as flores do andor, as pedras e a areia que o enfeitam regionalmente. Todos querem uma lembrança e todos querem vê-lo e tocar-lhe com objectos, tais como terços, medalhas, etc.
A baía da Povoação é agora um mar de luzes. Os barcos a motor acendem os faróis eléctricos indicativos da navegação, verde-rubros, e os da pesca levantam à borda os seus de petromax. De novo a mesma formação, mas a encoberto da noite, muitos dos forasteiros idos por terra, saltam para as naves e enquanto de terra se espalham pela praia os sons de cânticos à Virgem, do mar as vozes graves, predominando os marítimos que espalham pelo ar os acordes do Hino de São Paulo.
Apesar de extenuado e não obstante a hora já avançada da noite, o Reverendo Ouvidor, incansável, presente em toda a parte, ora dando ordens, ora cantando com a multidão, é o último a dizer-nos adeus e a desejar-nos Boa Viagem.
O percurso até ao nosso porto foi o melhor que poderíamos desejar e uma vez mais os filhos da Ribeira Quente estão àquela mesma hora da noite todos à espera do seu Padroeiro. Na praia não cabe mais ninguém e todos empunham velas acesas nas mãos. O desembarque foi muito feliz, mas moroso. Todos estão cansados mas muito contentes. Organizada a procissão vem São Paulo entre luzes e cânticos para a sua Igreja que foi desta feita pequena de mais para conter a multidão. Acção de graças, cânticos a plenos pulmões e Benção do Santíssimo. Eis o epílogo desta Festa que jamais os filhos desta minha terra e eu olvidaremos. L. D. V. M.

São Paulo da Ribeira Quente, 1 de Outubro de 1956

O Vigário Ecónomo
Padre Antero Jacinto de Melo

ANO DE 1960 - PRECES À SENHORA DE FÁTIMA A 13 DE OUTUBRO


De harmonia com a carta pastoral que o actual Bispo de Leiria dirigiu a todos os bispos do mundo e em obediência a D. Manuel Afonso de Carvalho que pediu que em cada paróquia fossem feitas preces à Senhora de Fátima com confissões, comunhões e uma Hora Santa na noite de 12 para 13 de Outubro de 1960, resolveu-se solenizar essa data com três dias de preparação com confissões, uma procissão de velas na noite de 12 para 13 de Outubro seguida de Hora Santa. Foi grande a afluência e entusiasmo dos fieis que calorosamente cantaram e pediram à Senhora pela paz do mundo.
Aqui fica arquivado para contestar a fé dos presentes à Senhora de Fátima e a adesão ao seu actual prelado, D. Manuel Afonso de Carvalho.

Ribeira Quente e Arquivo Paroquial, aos 14 de Outubro de 1960

O Pároco
Padre Silvino Amaral

ANO DE 1959 - VISITA PASTORAL DE D. MANUEL AFONSO DE CARVALHO

É com o mais vivo reconhecimento que agradecemos a apoteótica homenagem que Ribeira Quente nos quis prestar. Realmente é uma terra onde há fogo, onde a fé está bem ardente. Tudo se encontra na melhor ordem e pedimos ao Divino Espírito Santo que sempre nos ilumina, vivifica e ampara, que habite nas nossas almas e nos acompanhe através da nossa existência.
Deixamos uma benção especial, penhor das bençãos divinas, dum modo particular, para os bons marítimos, pedindo que nunca nos esqueçam nas suas orações, quando se dedicam á faina da pesca.
Parabéns ao bom povo da Ribeira Quente e felicidades ao Reverendo Vigário, Padre Antero Jacinto de Melo, pelos êxitos obtidos.

Ribeira Quente, 16 de Março de 1959
Manuel Afonso de Carvalho, Bispo de Angra

- ANO DE 1955 - TOMADA DE POSSE DO PADRE ANTERO JACINTO DE MELO COMO PÁROCO DA RIBEIRA QUENTE

Aos catorze dias do mês de Setembro do ano de mil novecentos e cinquenta e cinco tomei posse desta paroquial de São Paulo da Ribeira Quente, lugar da minha naturalidade. Nesta paroquial que ora me foi confiada, fui eu baptizado, nela pela primeira vez subi ao altar do Todo-Poderoso, e nela agora vou continuar como pároco próprio, a acção desenvolvida pelos meus antecessores que, desde o grande Padre Angelo de Amaral até ao Padre José Jacinto da Costa, foram incansáveis no seu engrandecimento espiritual, e até material.
Sei portanto que é árdua a tarefa que me espera, mas confio na protecção do Senhor e na ajuda do meu muito querido padroeiro São Paulo. É difícil ser-se alguém, quando após alguém que o soube ser, e de maneira tão evidente como todos os párocos que por aqui passaram.

"Jesus Coepit Facere et Docere", eis o que Ele de mim exige - primeiro o trabalho e a seguir o ensinar.

"Facere et Docere". Já vim, aqui estou Senhor! E agora... Vou começar.

Ribeira Quente, 14 de Setembro de 1955
Padre Antero Jacinto de Melo

- ANO DE 1955 - COMPRA DO HARMÓNIO E SANEFAS / MUDANÇA DE CLERO

Deve ficar registado neste livro a aquisição de um harmónio fixo, em segunda mão, mas quase novo, que foi comprado ao Vigário de São Pedro de Vila Franca do Campo, Padre Lucindo Teixeira Mendes Andrade, por sete mil escudos (7.000$00). Muito se esforçou para esta aquisição o digno seminarista João Vieira Jerónimo desta freguesia, bem como os elementos da Capela, percorrendo várias vezes os paroquianos e pescadores deste porto, que da melhor vontade deram a sua esmola - bem haja pos a todos.
Também acabou de vestir-se esta Igreja com sanefas nas janelas, bem como cortinas oferecidas pelo senhor José Azeredo e sua esposa, vindos da América. As sanefas importaram na quase totalidade em cinco mil escudos (5.000$00).
Como epílogo tenho a acrescentar que no dia 14 de Setembro de 1955, saí para a Paróquia de Santa Luzia das Feteiras de Ponta Delgada, conforme nomeação feita pelo senhor Bispo Coadjutor D. Manuel Afonso de Carvalho. Para me substituir vem o Padre Antero Jacinto de Melo, natural desta freguesia, ordenado à seis anos e que paroquiava no lugar da Covoada, Concelho de Ponta Delgada. Vou substituir o Padre Carlos Lopes que foi transferido para a freguesia do Raminho da Ilha Terceira e que com agrado pastoreou aquela freguesia das Feteiras durante oito anos. O Padre Laudalino de Sousa Duarte Frazão, cura da Povoação, foi transferido para a Lomba da Maia.
Deus abençoe o bom povo da Ribeira Quente e a mim me ajude a levar a cruz sacerdotal.

Ribeira Quente e Arquivo Paroquial, aos 14 de Setembro de 1955

O Pároco
Padre José Jacinto da Costa

REQUERIMENTO DIRIGIDO AO MINISTRO DO INTERIOR PARA A ELEVAÇÃO DO LUGAR DA RIBEIRA QUENTE A FREGUESIA

Senhor Ministro do Interior,
Excelência

Os abaixo assinados constituindo a maioria absoluta dos chefes de família eleitores neste lugar da Ribeira Quente, freguesia da Mãe de Deus da Vila da Povoação, Distrito de Ponta Delgada e com residência habitual ali, requerem a Vossa Excelência se digne criar uma freguesia neste lugar nos termos do artigo 9º do Código Administrativo e com os fundamentos que passam a expor:

1º- Tem a Ribeira Quente 1768 habitantes pelos resultados provisórios do requerimento de 1940.
2º- Conta obter receita ordinária anual de cerca de 2.000$00, a qual é suficiente para ocorrer aos seus encargos.
3º- Dista da sede de Freguesia (Vila da Povoação) 15 quilómetros e da freguesia mais próxima (Furnas) 8 quilómetros.
4º- Para registos de nascimento e casamentos sofrem os interessados grandes despesas e demoras para irem ao Registo Civil daquela Vila, e tratando-se de óbitos mais dispendiosa e morosa se torna, por isso, quem tem de ir à Vila obter certificado de óbito e às Furnas para chamar o médico assistente para vir verificar o óbito. Além disso é frequente precisar esta população de atestados do Regedor e de certificados da Conservatória do Registo Civil e para isso tem de percorrer trinta quilómetros, ida e volta, com a agravante de não haver carreira de camionetas, nem possibilidade de a estabelecer.
5º- É indispensável haver na Ribeira Quente autoridade judicial, Juiz de paz, além da polícia para manter a ordem, e Casa de Pescadores, visto na Ribeira Quente a maioria dos homens viverem da pesca.
6º- Com a criação desta freguesia não fica a freguesia de origem (Povoação) privada dos recursos indispensáveis à sua manutenção.
7º- Existem neste lugar pessoas aptas ao desempenho das funções administrativas em vigor suficientes para assegurar a renovação da Junta de Freguesia.
8º- Todas as vantagens e comodidades se conseguiriam e os incovenientes, despesas e aborrecimentos desapareceriam com a criação desta Freguesia, que os abaixo assinados confiadamente esperam por ver a sua principal aspiração, que certamente o Estado Novo satisfará atento o interesse que sempre tem tomado pelo bem dos povos e da Nação.
A Bem da Nação.

Ribeira Quente, 18 de Junho de 1941

COMPLEMENTO HISTÓRICO

A Ribeira Quente nasceu de forma identificada, por volta da segunda metade do século 17.
Mas, afinal, quem foram aqueles que formaram a comunidade sedentária deste lugar?
Qualquer tentativa para encontrar esta enigmática origem não pode passar além do campo das suposições, a não ser que, por mero atrevimento ou veleidade, alguém possa tirar algumas ilações daquilo que neste trabalho já foi dito.
O povo desta comunidade, posta de parte a faceta veraneante, surgiu pobre e viveu pobre no percurso da sua história agora largamente contada.
Se entrarmos no campo das suposições, baseando-nos em aparências físico-fisionómicas, podemos dizer que o segundo maior grupo étnico da Ribeira Quente, (os Regos) quer pelo seu moreno escuro, quer pelo seu comportamento e compleição, podiam ter tido algo a ver com os Sousas, Arrudas e Monteiros de Santa Maria; com os Botelhos e Bentos de Vila Franca e Povoação Velha, ou mesmo com os Resendes e Bentos do Faial da Terra.
Mas os PEIXOTOS DA RIBEIRA QUENTE, aquele imenso clã que sempre se identificou com o mar e só com o mar?...
Da compleição física entre o mediano e o alto, de temperamento arrebatado e de abarroada discussão que logo se tornava pacífica, era uma gente muito bonita, tanto homens como mulheres.
Com uma pele sardento-rosa-avermelhada, de olhos de um azul vivo e, muito demarcados de qualquer outro tipo de gente - como aquela que se fixou entre a Relva e a Bretanha, mas que nenhum historiador mencionou ou identificou para não ferir a susceptibilidade histórica - os Peixotos da Ribeira Quente eram prolíferos e bravos no mar.
As mulheres daquele clã eram uma espécie de mulheres guerreira, por vezes de altura desmarcada. Quer no trabalho doméstico, quer no do campo ou outros, pelo seu poder físico chamavam-nas de bestas de carga!
Fundamentalmente, os Peixotos da Ribeira Quente foram o protótipo perfeito de gente nórdica.

EMIGRANTES DA RIBEIRA QUENTE NO HAWAII / 1879 - 1883


Passport Records Index
Immigrants from Ribeira Quente to Hawaii, 1879-1883

Joaquim d'Arruda e sua esposa Maria de Jesus
João de Melo Barbosa
João Cabral e sua esposa Maria Josefa
Francisco Cardoso e sua esposa Ana Joana
Joaquim da Costa
António Jacinto
Manoel Leite e sua esposa Maria José
João Vieira Linhaus e sua esposa Maria Rosa
Manuel Linhares
Maria da Conceição Bonito
Manoel de Medeiros e sua esposa Maria Julia
Francisco de Melo e sua esposa Jacinta de Jesus
Manuel Moniz e Antonia Jacinta
Manuel do Rego e sua esposa Ana Emilia
José de Melo Seradio e sua esposa Rosa Emilia Carlota
João da Silva e Mariana de Jesus, Francisca de Jesus e Maria Rosa

Compiled by Melody Lassalle from the book,"Portuguese Immigrants from Azores to Sandwich Isles, 1879-1883: Passport Index", by Robert DeMello. Honolulu : De Mello Publishing Co.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

TRAGÉDIA DE 31 DE OUTUBRO DE 1997


Neste ano de muitas calamidades públicas por todos o Mundo, devido a acções provocadas pela Natureza, esta Ilha de São Miguel sofreu um dos mais longos períodos de chuvas de sempre.
Os solos encharcados foram cuspindo terras que se soltavam, daí os muitos descorrimentos que se deram, alguns de muita gravidade.
Também na Ribeira Quente, na noite de 31 de Outubro de 1997, entre as 3 e as 3 horas e 30 minutos, desprenderam-se das rochas altas volumosos bocados de terras encharcadas que, deslisando vertiginosamente encosta abaixo, vieram arrasar zonas da parte antiga desta localidade, soterrando sob as mesmas, 29 pessoas que dormiam nos seus lares.
Quer pela grandeza das matérias descidas, quer pelas mortes e prejuízos causados, depois do ano de 1630 este foi o mais trágico acontecimento histórico ocorrido na Ribeira Quente.
Os órgãos de informação moderna, como a televisão, deram-lhe a dimensão necessária e muita mais, por isso se criou um imenso movimento de solidariedade humana jamais igualado nos Açores e, por via disso, foram nascendo outros actos de solidariedade humana até mesmo fora dos Açores e país.
Do outro lado do Atlântico, como não podia deixar de ser, os açorianos criaram outros movimentos de angariação de auxílios porque, na realidade, o nível de vida por lá (América e Canadá) era de poder equilibrado, os auxílios foram crescendo de uma forma relativa e muita válida.
Vinte e nove mortes num pequeno aglomerado como a Ribeira Quente, foi algo de muito dramático e chocante.
Entre os vinte e nove mortos, contaram-se:

César Furtado Carvalho, de 76 anos e sua esposa Maria da Glória Pimentel Rego, de 71 anos;

João Vieira de Melo Peixoto, de 67 anos, sua esposa Idalina Cardoso de Melo, de 63 e o filho Helder de 22 anos;

Maria Elvira Correia Pimentel Pacheco, de 36 anos, e seus filhos Magno Filipa, de 16, Carla Patrícia de 18, Leandra Sofia de 7, e Hugo André de 10 anos;

Maria Helena de Melo Peixoto, viúva de 39 anos, morreu juntamente com seus filhos Pedro Miguel de 13, Milton César de 14 e Diogo Alexandre de 8, e ainda um sobrinho desta viúva, que residia em sua companhia, de nome Paulo José da Silva Costa, de 33 anos de idade;

Maria Gilda Costa Vieira, de 62 anos, seu marido José Tavares Ferramenta, de 64 e seu filho Fernando Luís Costa Tavares, de 24, estes últimos, ambos coveiros da freguesia da Ribeira Quente;

Ângelo Couto Linhares, de 64 anos;

António Leite Medeiros, de 50 anos;

Maria de Jesus Linhares Cardoso, de 31 anos e suas filhas Sofia Linhares Cardoso, de 6 anos e Alexandra de apenas 3 semanas;

Aida Maria Amaral Xavier Rosonina, de 26 anos e sua filha Simone Xavier Rosonina, de 2 anos;

Manuel Rosonina e sua esposa Zulmira Oliveira Silva, ambos de 59 anos de idade;

Ilda de Jesus Gonçalo, de 75 anos e sua neta Tatiana Barbosa Vieira.

Porque era noite fechada e tudo se havia consumado em fracções de minutos e nada indicava estar iminente qualquer acontecimento de tamanha natureza, visto que a zona dos corrimentos, no percurso de 367 anos históricos, nunca tinha sido considerada zona de perigo - embora o perigo e os riscos estejam em toda a parte - quaiquer socorros prestados não podiam ser imediatos nem obstariam a que fosse consumada tamanha desgraça.
Completamente isolado, o povoado da Ribeira Quente por efeitos da tempestade, quer por terra quer por mar - visto que os taludes que suportam a modesta estrada (única) de acesso assentam parcialmente sobre o leito da ribeira - tanto os corrimentos de barreiras descidos sobre esta, como os cortes feitos pela mesma devido à força do caudal, contribuiram para que parte destes socorros fossem insuficientes e demorados.
O paredão feito no porto de pescas da Ribeira Quente devido a pressões e aproveitamentos já mencionados, embora fosse insuficiente para quaisquer auxílios vindos do mar, havia cedido a uma tempestade ocorrida a 25 de Dezembro de 1996.
Sem estrada, sem porto de mar, sem telefones nem luz, numa altura tão alucinante, ficou o povo desta localidade em muito mais abandono do que aquele que sofria antes de 1940.

RIBEIRA QUENTE E AS CHEIAS

Dentro do contexto do passado histórico, embora a ribeira da Ribeira Quente seja a única boca de saída de todas as águas pluviais ou de absorção que descem do Vale das Furnas, nas quais se incluem as de escoamento da sua lagoa, em matéria de cheias, estas nunca foram trágicas.
De um modo geral, se se excluir a Freguesia de Água Retorta, toda a área do concelho de Povoação é, de certo modo, uma zona da ilha de São Miguel considerada de risco espectante, mais propriamente dito em alturas sazonais, Outono, Inverno e parte da Primavera, devido a cheias desmesuradas.
Historicamente, a freguesia do Faial da Terra tem sido companheira da sede do seu concelho nos momentos de desgraça, quanto a cheias. Apenas quase só divididas pela cumieira que parte do Pico da Caldeira e se estende até ao Pico Longo, no decorrer dos séculos tanto a hoje a Vila da Povoação como o apertado povoado do Faisl da Terra têm sido lugares de muitas catástrofes hidrográficas.
A bacia da Povoação, quer pela sua dimensão, (3.350 hectares), quer pelos inúmeros sulcos cavados pelas águas nas encostas das suas montanhas, tornados depois regatos e ribeiras, sempre foi uma área geográfica hídrica de alto risco e quase perigo permanente. Hoje está muitíssimo agravado este alto risco porque toda ela, bacia, é uma pastagem de terras que não absorvem as águas pluviais e que, quando absorvem, logo se encharcam e cospem as águas que vão vertiginosamente formar caudal.
Por isso a Povoação é terra de cheias.
Dentro do nosso período histórico ou período em que se fez história, a cheia do ano de 1744 foi a mais trágica, visto que não só varreu muitas casas da ainda então Povoação Velha, como matou 61 pessoas que foram arrastadas para o mar. Depois, sendo já Vila, a cheia do ano de 1896 foi a que mais marcada ficou na sua verdadeira história porque, esta Grande Cheia, assim chamada, levou algumas casas e matou 12 pessoas, cujos nomes estão registados em documentação camarária.
Falando novamente da Ribeira Quente, todas as históricas chaias da sua ribeira nunca causaram mais do que maiores ou menores prejuízos materiais, porque o seu curso de águas passa ao lado.
Como já foi mais de uma vez referido, o lugar da Ribeira Quente tem uma história parcialmente encoberta, além desta agora contada.
Baseando-nos nos escritos de Fructuoso e aceitando condicionalmente algumas das suas afirmações escritas, podemos verificar que, na realidade há pedaços dos seus escritos que nos empurram par o campo das suposições, que bem podem ser verdades.
Repetindo, agora, no seu todo, o último parágrafo da página 140 do volume II do seu livro Quarto, podemos encontrar certezas e incertezas que podem ser sequências dessa enconberta história:

"A noite que amanheceu a sete de Outubro de mil e quinhentos e oitenta e oito, choveu por aquelas partes (do hoje Concelho da Povoação) tanta água, que atupiu muitas destas furnas (caldeiras) com suas enchentes e levou algumas casas com seus moradores ao mar, de que tomou bom espaço posse um pedaço de terra que quebrou do pico da Vara, mudando a Ribeira Quente de sua primeira madre, e em diversos lugares e partes desta ilha, fazendo muitas mudanças e espantosas novidades". (O entre parêntesis é do autor deste trabalho)

Notoriamente, mais apanhados da informação do que da observação, nem por isso alguns dos dados desta notícia do Dr. Fructuoso perdem mérito histórico, visto que dos mesmos constam nomes e referências indesmentíveis porque foram verdades.
ATUPIU (entupiu) era usual como era vulgar a FURNA e não caldeira. Porque ele, Fructuoso, se refere, na realidade, às Furnas e as àguas das Furnas só têm saída para o mar através da apertada garganta que se começa a formar na "Ribeira dos Tambores" e vai, mais abaixo, chamar-se ribeira da Ribeira Quente, pois nunca houve outra com esta designação nem saída. A afirmação: "mudando a Ribeira Quente (curso de água) de sua primeira madre", é sinónimo de que, antes deste acontecimento ocorrido naquele ano de 1588, a foz da ribeira da Ribeira Quente era diferente.
"e levou algumas casas com seus moradores ao mar". De certeza que não eram casas do lugar das Furnas que ainda não era povoado; por isso se pode admitir que já houvessem algumas casas de veraneantes nas margens desta ribeira.
Há muita contradição nesta informação de Fructuoso, mas o acontecimento foi um facto histórico que veio a ser reproduzido, mais tarde, em outras narrativas.
O corrimento de parte da falda sul do Pico da Vara foi, realmente, algo de vulto, visto que ainda no presente aquela perigosa falésia se encontra sem vegetação ou desguarnecida.

Quando o Dr. Fructuoso menciona no seu livro que neste lugar também veraneavam religiosos, não designa sexos, mas a toponímia vem-nos mostrar que houveram outras ocorrências históricas dentro do espaço físico da Ribeira Quente.
O "Outeiro da Freira", que geograficamente se chama "Outeiro das Freiras", foi, sem dúvida, ou propriedade de qualquer congregação religiosa, ou refúgio de freiras nos tempos corsários (mais provavelmente a primeira versão). Esta zona alta da Ribeira Quente foi, como tudo indica, a área das melhores fajãs desta localidade, antes da erupção vulcânica de 1630.
A "Eira das Freiras", conforme o mapa, é toda a zona nascente da margem da ribeira desde o litoral à primeira curvatura desse curso hídrico. Sem ser solo de formação, a sua parte plana e já no plano inclinado, foram os melhores quintais da localidade da Ribeira antes deste se terem tornado zona residencial.
Só o moinho que ali existiu (existem ruínas) se relaciona com o passado.
A zona alta continua era propriedade da familia Saraiva - que era um carpinteiro natural das Furnas que veio a casar na Ribeira Quente com uma jovem que havia sido criada pelo Padre Ângelo, já mencionado - o qual se tornou seu proprietário depois de regressar da América do Norte, por ter sido ali imigrante.

RIBEIRA QUENTE - ASPECTO CULTURAL 2


Mas porque haviam muitas mais metas a atingir, muitas vertentes para subir e descer, veio a nascer um centro social na Ribeira Quente que foi a pedra fundamental para a grande transformação social que se veio a verificar nesta localidade.
Embora inicialmente improvisado, o hoje verdadeiro Centro Social foi feito no ano de 1996 com auxílios da Câmara Municipal da Povoação, Instituto de Acção Social e Santa Casa da Misericórdia da Povoação.
Este Centro Social - que é a maior obra de vulto depois da Igreja Paroquial - é, na realidade, um valioso marco histórico onde assenta uma sã vida social e cultural abrangente.
A Revolução de Abril não foi o mote visto que já antes havia trabalho feito, mas foi mais uma pedra que veio alicerçar algo que depois foi feito e tornado realidade condicionada: o Porto de mar desta terra esquecida.
Novamente recuando no tempo, vamos verificar que a criação na Vila da Povoação, da "Escola Preparatória Maria Isabel do Carmo Medeiros", instituida, como já foi dito, devido à imensa benemerência de um sacerdote filho desta Vila, e à incansável força de vontade de um outro sacerdote também filho da mesma, que havia sonhado um dia poder ver na sua Vila algo mais do que escolas primárias, foi e é a mais relevante estrutura de sempre que contribuíu para a formação dos jovens do concelho, incluso os da Ribeira Quente.
Como sempre, oportuno e incansável, o Padre Silvino veio a tirar também desta escola, valores que lhe foram incomensuráveis: os das promoções da mocidade ao seu cuidado.
(O Serviço Regional de Estatística do ano de 1991, diz que, naquele ano, a população da Ribeira Quente, que era de 998 habitantes, tinha 496 com a instrução primária, 190 com o Ensino Preparatório, 53 com o Ensino Secundário e dois com outros graus de ensino, que denota um elevado grau de aproveitamento).
O Padre Silvino pertenceu a uma equipa sacerdotal, G.R.P. (Grupo de Reflexão e Acção Pastoral) desde a sua fundação. Serviu-se deste Grupo para reciclar e manter sempre actual a informação sobre problemas de Pastoral.
As múltiplas actividades de ordem pastoral, através de vários movimentos de apostolado existentes na paróquia, fizeram do pároco uma pessoa bastante ocupada.
Em 1994 foi nomeado Ouvidor Eclesiástico da Ouvidoria de Povoação.
Na qualidade de pároco está-lhe inerente a Presidência do Centro Social Paroquial da Ribeira Quente, que ele próprio constituíu como resposta aos múltiplos problemas sociais, bem manifestos na comunidade que oferecia uma imagem de abandono.
Este Centro, em 1986 e 1987, candidatou-se a dois projectos do Fundo Comunitário Europeu (F.S.E.) para Agentes de Desenvolvimento e Animadores Sócio-Culturais, atingindo formandos de todo o concelho.
Em 1995 é Promotor da Iniciativa NOW I e de 1996 a 1999 tem a NOW II de nome PRATIKAS, atingindo vários concelhos da Ilha.
Ainda neste Centro nasce a TERRA-MAR, Associação Para o Desenvolvimento Local.
Em Setembro de 1997 o Centro foi promotor de um Projecto de Luta Contra a Pobreza, para todo o Concelho de Povoação, o qual tomou o nome de VALORIZAR e que se estenderá até ao fim de 1999.
Como consequência de toda esta dinâmica, os Agentes de Desenvolvimento e Animadores Sócio-Culturais, depois de se dirigirem à Câmara Municipal, arrancavam com as Festas Culturais do Concelho, realçando-se na Ribeira Quente as "Festas do Chicharro"; a NOW I implantou no mesmo o "Grupo Folclórico de São Paulo" que hoje tem a sua autonomia bem vinculada; a TERRA-MAR faz um grande festival para o Desenvolvimento Local no Concelho de Povoação, concentrando na Vila a maior parte das forças de expressão económica e cultural, envolvendo todas as freguesias do concelho; cria um balcão de artesanato no Sol-Mar em Ponta Delgada, e candidata-se ao LEADER II com um projecto de nome MADRE, que foi aprovado para atingir a Ribeira Quente na dinâmica de Desenvolvimento Integrado; os Escuteiros que animavam o desporto, permitiram fundar-se a Associação Cultural Desportiva de nome MARÉ - VIVA, que liderou muitos anos as "Festas do Chicharro" e torneios de desporto que movimentaram e ainda hoje movimentam centenas de jovens.

RIBEIRA QUENTE - ASPECTO CULTURAL 1



De uma forma geral, ainda na primeira metade do século passado, os jovens do meio rural estavam condicionados a uma só etapa do caminho da evolução cultural literária.
Atingir um diploma da 4.ª classe da instrução primária era o vértice que se tornava prémio para quem o obtinha, e uma grande satisfação para os pais que nunca o tiveram.
Escolas secundárias, então uma só em Ponta Delgada. As intermediárias também eram inacessíveis devido às mesmas dificuldades sociais de então.
Os pais mais futuristas, quando podiam desviar dos seus fracos recursos algumas economias, mandavam os filhos para o então grande meio que era Ponta Delgada, porque só ali estes podiam transpor a barreira do limitado, e ir mais além em busca de outros sonhos profissionais-culturais.
O ensino intermediário que despontava em Vila Franca do Campo, embora não fosse oficializado, foi parcialmente positivo mas não isento de encargos para os pais dos jovens que vinham de zonas distantes. É que as instituições religiosas também tinham barreiras estanques.
Para alguns jovens do meio rural, depois de concluída a instrução primária, a entrada no Seminário de Angra era uma grande alternativa quando haviam alguns recursos, vontades e auxílios, porque, mesmo falhando as vocações por razões de ordem diversa, os graus de relativa equivalência, embora ainda não igualitários, já permitiam a abertura de muitas portas de promoção.
Quando estavam fechados todos os condicionalismos de promoção social, os pais viam-se obrigados a ensinar as suas profissões aos filhos, por obrigação rotineira.
Os filhos viam-se obrigados a herdar a profissão dos pais, isto com pequenos desvios nas profissões liberais de não grande disparidade. Até mesmo quando os pais exerciam profissões de função pública, em alturas adequadas, estes preparavam os filhos - quando os mesmos possuíam o grau de instrução primária, o tal diploma da 4.ª classe (houve uma 5.ª não durável) - e colocavam-nos nos seus lugares, quando reformados. Para tal bastavam umas antecipadas bajulações e vénias que eram aceitas como formalidade normal.
Naquela altura em que não existiam concursos públicos fosse para o que fosse na função pública, apenas prevalecia o sentimento convicto do normal acto de locação hereditária. Por esta via não ficavam sensibilidades feridas nem sinais de imoralidades exacerbadas.
Como é facil de compreender, a Ribeira Quente era uma terra de pescadores e trabalhadores não classificados, por isso os filhos desta localidade sempre tiveram horizontes limitados.
Como já ficou atrás referido, quando o Padre José Jacinto da Costa conseguiu elevar o lugar da Ribeira Quente a freguesia, a oposição foi forte por parte dos intelectuais da Vila da Povoação, os quais não acreditavam que, na Ribeira Quente houvessem homens capazes de reger uma então simples Junta de Freguesia!
Historicamente, e independentemente de quaisquer dotes de inteligência, tanto Vila Franca como a Povoação entendiam que o povo desta localidade tinha de permanecer eternamente montano e êxul como o foi na sua forma primitiva, embora já fosse, nesta altura da década de quarenta do século XX, um povo capaz de ser gestor dos seus reduzidos recursos.
Mas, para que este período se torne mais elucidativo, é lógico que se mencione o seguinte:
As 4.ªs classes de então, continuadamente trabalhadas, produziam valores inegáveis quer no campo particular quer no oficial (função pública do meio rural). Por isso é que, ainda esta mencionada primeira metade do século passado, nas repartições públicas da Vila da Povoação, nomeadamente na Secretaria Notarial, Registo Civil e Conservatória do Registo Predial, os ajudantes - alguns a desempenhar em periodos longos, os lugares de conservadores - foram profissionais competentes, embora só possuíssem a instrução primária!
O primeiro ajudante do posto do Registo Civil da Ribeira Quente, só possuía essa habilitação literária.
Este posto foi extinto já no período do actual pároco, por se verificar que, por razões óbvias, o mesmo não era viável.
O Padre José Jacinto da Costa - mais conhecido na Povoação por Sr. Padre Mansinho mas, na Ribeira Quente, devido à linguagem idiomática do povo desta localidade, por O SIM PADRE MINSINHO procurou, naquela altura, alterar o curso histórico do anómalo comportamento deste povo subalterno quando posto perante situações de arrogância administrativa. Porém as mudanças foram notórias mas não substânciais devido à situação política prevalecente.
Foi nesta situação de fechado grau cultural, ou limitado grau cultural, que o então jovem Padre Silvino veio encontrar a comunidade da Ribeira Quente.
Embora já levemente melhorada por um edifício escolar do "PLANO CENTENÁRIO", ainda assim continuavam muitas crianças a não ir à escola porque a sua sobrevivência e dos seus familiares dependia mais do trabalho do que da escola - e isto não era por egoísmo dos pais mas sim por velada necessidade.
A abertura dos túneis, embora se julgasse que sim, não alterou certas situações - continuou a não haver transportes colectivos de passageiros para esta localidade porque o povo era muitíssimo pobre - por isso o mesmo continuou a ser um povo fechado no seu limitado espaço vivencial, a do mar largo e pouca terra que lhe não permitia mais do que os mesmos ressequidos lugares.
Historicamente, até então, nesta freguesia só haviam surgido depois da instrução primária, duas vocações sacerdotais; uma que se não completou por razões de força maior, e um professor de instrução primária.
Vendo esta situação de travamento sócio-económico e sócio-cultural, o Rev. Silvino procurou alterá-la.
Apostando numa visão sua, a qual veio a dar frutos positivos, começou a trabalhar a juventude da Ribeira Quente, incorporando-a no Corpo Nacional de Escutas através do Agrupamento 107 de Ponta Delgada - no concelho de Povoação depois do agrupamento da Mocidade Portuguesa fundada na década de 30 do século passado, (durou pouco) mais nada houve em matéria de acção cultural. por isso a Ribeira Quente ficou a ser, nessa altura de filiação escutista, a pioneira do primeiro grupo ecutista no mesmo.


A Acção Católica Rural foi outro passo dado pelo Padre Silvino, a fim de sacudir o pesado marasmo incultural de sempre. É que este sabia, dado os conhecimentos da sua formação, que a formação espiritual tem sempre uma linha paralela que deve ser colmatada, a formação cultural, porque só a partir desta se pode penetrar na vida de recursos materiais indispensáveis.
De referir neste trabalho que dos muitos grupos da Acção Católica Rural na Ilha de São Miguel, subsistiram até aos dias de hoje as Secções da Ribeira Quente, Ribeira das Tainhas e Vila de Rabo de Peixe. O Padre Silvino continua hoje a ser o Assistente Espiritual destas Secções. Não podemos também deixar de referir que em Outubro de 2004 em Assembleia de Ilha da Acção Católica Rural foi eleito para Presidente da Acção católica na Ilha de São Miguel o filho desta terra Márcio Paulo Pimentel Peixoto e reconduzido no mesmo cargo em Assembleia de Ilha realizada em Julho de 2007.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

MOINHOS DA RIBEIRA QUENTE



Moinho do Sr. Luis Linhares
Moinho do Tio Pexia
Moinho do Sr. Manuel Cidade
Moinho do Tio Apelador

RIBEIRA QUENTE, SUA ORIGEM E DESTINO


Como atrás já foi afirmado, e há que repeti-lo: Criado pela força da Natureza no período da formação desta ilha, e talvez modificado por outras razões antes destas ilhas serem conhecidas, o litoral da Ribeira Quente e suas encostas altaneiras, quando formado povoado não o foi por quaisquer pescadores.
A sua história - esta história que está a ser contada - tem fundamentalmente outra origem.
Segundo Gaspar Fructuoso no seu tempo e antes dele, aquele primitivo e mirífico lugar de encostas irregulares que se veio a chamar de Ribeira Quente, já não era virgem. Era sim um lugar onde nasceram algumas fajãs e existia uma longa praia que era utilizada pelos principais da terra, incluindo sacerdotes e outros religiosos, assim como nobres estrangeiros.
Esta classe de veraneantes e utentes da praia e das deliciosas águas térmicas - as da ribeira, as do fundo do mar e as da pequena casacata que nasce sobre a praia na zona da denominada "Rocha Secreta" - era, sem dúvida, uma classe social não miscível com gente de rude trabalho.
Porém, pôs um não longo interregno nos usos e costumes dessa classe privilegiada ou seus descendentes, porque podemos cerificar por dados já citados, que as fajãs tornaram a nascer em melhor qualidade e quantidade e, os veraneantes por isso voltaram.
Historicamente falando, a comunidade piscatória desta localidade só aparece superficialmente nos dados colhidos, passados que eram 160 anos.
Isto é: o predestinado lugar onde existia uma ribeira de águas mornas e praia amena, voltou a ser aquilo que já era anteriormente.
Porque Deus e a Natureza assim o destinaram, pela terceira vez volta a Ribeira Quente a entrar numa nova fase desse destino.
Os habituais veraneantes das Furnas continuavam a procurar, no estio, a amena Praia do Fogo, ao mesmo tempo que outros também o faziam.
A propalação da riqueza das suas areias então limpas e temperadas devido à fenomenal vida vulcânica que só se sente sob os pés dos banhistas quando estes metidos no mar, (na zona nascente do fundo mar), veio a contribuir para que, pela terceira vez na sua história, a Ribeira Quente entrasse no porquê da razão da sua existência como lugar sossegado e ameno, mais vocacionada para o turismo sazão do que para terra de homens do mar.
No começo da década de setenta do passado século já existia uma casa de veraneio alcandorada no princípio das rochas da falésia do atalho da Ponta do Garajau, pertencente à família Franco, velha proprietária de toda a vertente poente do lado da Ribeira do Agrião.
Por volta de 1972, uma família Viveiros de Ponta Delgada, compra na 1.ª Canada José Cruz uma das casas abandonadas por uma família emigrante e, logo depois, um familiar desta compra uma segunda mais acima, na parte poente da igreja. Ainda hoje esta propriedade é identificada com a "CASA DA SENHORA DE LISBOA".
Também aqui na Ribeira Quente, o fenómeno da aquisição de casas deixadas por quem, já há muito, as tinha abandonado por necessidades de sobrevivência, foi acontecendo muito lentamente.
Mas foi a década de oitenta do século XX, mais verdadeiramente a sua segunda metade, que veio revolucionar a vida de veraneio neste povoado.
As modestíssimas habitações passaram a ser procuradas e compradas por preços até exorbitantes; algumas eram adquiridas só pelo espaço que ocupavam, e onde eram erectas outras habitações apropriadas para fins de veraneio. Devido à falta de espaço para o estacionamento dos carros dos novos proprietários e banhistas, então já considerados muitos para tão pequeno espaço, o município da Povoação, com dinheiros comunitários, fez alguns parques de estacionamento sobre a Ponta da Golfeira, que só é conhecida como Ponta do Fogo, enriquecendo toda aquela zona balneária.
Este então grande empreendimento, ao tempo assim considerado, teve início depois do primeiro curso de artífices, designado por F.S.T.S.R.T., que havia começado nas Furnas a 3 de Janeiro de 1987, cujo um dos seus monitores, o de pedreiros, passou simultaneamente a desempenhar essa missão de ensino, ao mesmo tempo que ia construindo a actual muralha da Praia do Fogo, a escada de acesso à praia e os seus balneários mistos, ao cimo, isto já em 1988.
Foram Fundos Comunitários que deram origem a este então grande empreendimento, porque 85% do seu custo foi de origem comunitária. (O Municipio da Povoação custeou, por norma, os outros 15 %).

CANADAS, BECOS, RUAS E ESTRADA DA RIBEIRA QUENTE


Avenida 31 de Outubro
1.ª Canada José Cruz
1.ª Canada Trincheira
2.ª Canada José Cruz
2.ª Canada Trincheira
3.ª Canada José Cruz
Rua da Alegria
Rua Além Ribeira
Chã da Caldeira
Canada do Alexandre
Bairro Alto
Canada Barbosas
Canada Buraco
Bairro da Câmara
Largo Padre Silvino Amaral
Rua Castelo
Rua Comandante Tenreiro
Rua Direita
Rua Dr. Frederico Moniz Pereira
Caminho do Garajau
Adro da Igreja
Rua José de Sousa
Rua dos Moinhos
Rua do Rego D'Água
Rua Outeiro
Canada Padre António
Rua Ponte do Castelo
Avenida da Praia
Estrada Regional
Rua Rego D'Água
Beco da Rua Direita
Beco da Rua Torta
Rua Torta
Deapareceram na Catástrofe de 31 de Outubro de 1997: (Canada dos Tiburcios e Canada da Igreja Velha)

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

ASPECTO SÓCIO - PAISAGÍSTICO DA RIBEIRA QUENTE


Localizadas - e aqui o verdadeiro chamariz e ineditismo - em estreitos labirintos onde só o caminhar humano se sentia e o sossego era permanente nestes espaços os novos proprietários criavam facilidade de contactos e faziam rápidas amizades com os naturais. Tudo isto contribuíu para que o povoado da Ribeira Quente fosse procurado por ser um lugar atractivo de velado sossego e paz. Ainda ali se tinha a plena e absoluta certeza de que, deixando as chaves nas portas, as suas casas não seriam violadas.
Ao abrigo de uma então situação política, cujos partidos namoravam os habitantes das pequenas povoações como a Ribeira Quente, e sabedora dessa vocação partidária, a Junta de Freguesia de São Paulo desta localidade, resultante das primeiras eleições do após primeiro governo regional, sem dúvida composta por gente humilde mas inteligente que, sem dúvida, amava mais a sua terra do que os partidos políticos, foi, com certo orgulho, tentando melhorar o aspecto físico-social da sua terra de nascimento. Isto no percurso dos anos.
Os seus velhos labirintos e canadas foram, pomposamente, sendo toponimicamente alterados para ruas; por isso surgiram muitas novidades.
No lado mais recuado da zona do Fogo, a "CANADA DOS BARBOSAS" no sopé do Pico Pirâmide, uma das velhíssimas artérias do lugar, recebeu, pela primeira vez, uma placa em cerâmica com a mesma designação; mas, logo a seguir, com começo no litoral ou "RUA DO CASTELO", a curta canada em forma de esquadro, que logo ali acaba - onde a primeira Junta de Freguesia da Ribeira Quente construíu a sua primeira e grande obra monumental, os lavadouros do Fogo, para evitar que as mulheres daquela zona tivessem de calcorrear, de cesto na cabeça, cerca de um quilómetro para poder lavar as suas modestas roupas no único lugar onde então havia água suficiente, na ribeira da Ribeira - também foi promovida a "RUA REGO D'ÁGUA" e, logo mais adiante, uma outra canada foi elevada a "RUA NOVA DO RÊGO".
Mas a artéria mais espectacular da zona do Fogo ou Albufeira, é a "1.ª CANADA JOSÉ CRUZ", que logo se quebra após a sua entrada, e se ramifica em esquadrilhas de percurso relativamente apertados, ora subindo na direcção poente, norte e nascente, mas com uma só saída para a "RUA DA ALEGRIA"!
Este labirinto é o mais inédito.
Esta riqueza antiga mostra-nos o denodo com que foram procuradas pequenas parcelas irregulares de terrenos para se construir um refúgio quando o mar ia roubando a terra!
Também a "CANADA DA IGREJA VELHA" foi promovida a rua e, mais para o lado da Ribeira, a "CANADA DA CHARUTA" virou "RUA DA TRINCHEIRA" por alusão a algo que ali foi feito na Segunda Guerra Mundial.
A "RUA DO PADRE ANTÓNIO", ainda na década de quarenta era a "CANADA DAS PEIXOTAS", um quadricular e curto acesso que parte da "RUA DIREITA" para o litoral e que é mais um sinal de um passado de violenta simplicidade e pobreza.
Se se não pode chamar à "RUA DIREITA", porque esta também é estreita e irregular, de a melhor rua da zona da Ribeira, pois a que parte do porto para norte, junto à margem da ribeira é que o é, não se pode deixar de dizer que, na realidade, esta deve ter sido o primeiro troço de caminho que foi criado pelos pescadores da Ribeira Quente, no período da sua formação como homens do mar.
A riqueza da "RUA TORTA", quer pela sua designação quer pela sua estreiteza, mostra-nos também algo que transmite a razão da sua existência.
Todos estes antigos atalhos, cujas casas passaram a ter água e saneamento básico em data recente, formam o verdadeiro atractivo que prende os visitantes que aqui vêm.
(O casario do lado nascente da ribeira, em relação ao passado, é bastante destoante. Foi um recurso).
Como património social devia ter sido respeitado, naquele lado, o "MOINHO DO APELADOR".

terça-feira, 2 de setembro de 2008

PORTOS DE MAR DO CONCELHO DA POVOAÇÃO


Uma das razões da morte prematura do concelho de Povoação, além do abandono dos seus povoados, foi a falta de portos de mar, sempre evidente.
Historicamente encravada, como a Ribeira Quente e Faial da terra, a Vila da Povoação, a rasar o mar, nunca teve quaisquer estruturas portuárias.
A motorização dos seus barcos de pesca e a anteriro motorização do seu último barco de cabotagem, foram a razão do seu desaparecimento.
A Ribeira Quente, porque quase só vivia da pesca, ao motorizar os seus barcos de boca aberta, ficou perante o dilema de vir a ter graves problemas futuros, porque varar ou arriar um barco motorizado de já maior dimensão, não podia continuar como antes, ao sabor do incerto.
Os seus rogos nunca foram ouvidos por qualquer entidade governativa, embora algumas soubessem que a Ribeira Quente depois de identificada, como povoado, sempre havia sido, e era, uma zona da ilha que vivia quase exclusivamente da pesca.
Na Povoação, sede do seu concelho, todas as tentativas nesse sentido foram infrutíferas e desolantes para os pescadores da Ribeira Quente.
Mantinha-se ali, desde há muito, uma curta e pequena rampa de varagem de pedra rústica que, na maioria do tempo, ora se cobria com seixos de pedra roliça, ora com areia sazão.
Já dentro do período da Revolução de Abril, os pescadores desta localidade, também compreenderam que nos períodos de reboliço político, por vezes, se podem conseguir coisas que, em situações normais, nunca se conseguem.
Sob a orientação moral do seu pároco, o Padre Silvino, se constituíram uma Comissão Reivindicativa, a fim de aproveitar a então natural tendância revolucionária para concessões.
Esta comissão, sempre acompanhada de perto pelo seu prestigiado pastor, foi constituída em Setembro do ano de 1975.
Emcabeçada pelo então jovem professor das Lajes do Pico, Carlos Ávila, que ali leccionava o Ciclo Preparatório T. V. conhecido como telescola, foi este o escolhido devido ao seu fácil poder de comunicação e expressão, já que os pescadores, embora bastante maturos, logicamente, iam ter muitas dificuldades.
Cientes de que em Ponta Delgada se não conseguiria nada em matéria reivindicativa, depois de contactos tidos com o então Presidente da Junta Governativa dos Açores, general Altino de Magalhães, pensaram ir a Lisboa a fim de expôr a sua velha situação.
Esta Comissão Reivindicativa era composta por:
Carlos Ávila
João Vieira Melo Peixoto (João Balaia)
António Rita Amaral (Sacadura)
António do Rego Braga
José Francisco Gonçalo Lima (José Faia)
Carlos Manuel Couto
João Canhoto
José Baieta
e José Bezuguinho
Por razões óbvias, só foram a Lisboa: o professor Carlos Ávila, como cabeça da comissão, João Balaia, António Sacadura, António Braga e José Faia. Esta deslocação ocorreu em Julho de 1976.
Foram transportados em avião militar conseguido pelo general Magalhães, tendo sido este também, quem conseguiu que esta comissão fosse recebida em Lisboa pelo ao tempo Director Geral dos Portos, o Eng. Mulhõs de Oliveira.
A deslocação foi positiva visto que, nesta mesma altura, depois do projecto aprovado como previsto, a obra foi adjudicada à Firma Edimar de Setúbal pela importância de cerca de 12.000 contos, então valor muito significativo.
Esta obra foi iniciada neste mesmo ano, e concluída no ano seguinte, 1977.
Por determinação do Governo da Nação, depois do molhe concluído, este passou então a ser propriedade do Governo da República e da Direcção Geral dos Portos.
Embora não houvessem, naquela altura ou tempo, tantas facilidades telefónicas, como hoje, para a Ribeira Quente, houveram em quantidade suficiente para poder transmitir a alguns membros da Comissão Reivindicativa, saudações pouco amigáveis, muito próprias daquela época de ebulição.
A propalação da riqueza amena da Ribeira Quente continuava o seu curso, vindo esta a dar o grande impulso para o reajustamento de uma histórica fase enfática de um passado distante que havia morrido desde há muito, porque o mar, amigo e inimigo, assim havia desejado.
Lentamente, o fenómeno da compra de casas abandonadas foi crescendo: As modestíssimas habitações passaram a ser procuradas, inicialmente, por preços correspondentes ao seu real valor de casas em degradação, algumas destas apenas adquiridas pelo simples espaço que ocupavam, não pelo valor da sua construção, porque eram apenas um montão de pedras em paredes sem consistência alguma.
Mas a fenomenal e célebre mudança do aspecto sócio-paisagístico da freguesia da Ribeira Quente, não teria acontecido assim tão rapidamente, só pela existência da sua praia e das casas abandonadas. Houveram outras razões, como a de já alguns pescadores poderem dar um melhor aspecto às suas modestas habitações. Mas a razão mais forte foi a do aparecimento de uma população que se fez ambulante, por ter comprado as rudimentares e velhas habitações abandonadas por força da emigração.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

EMIGRAÇÃO E DESPOVOAMENTO DA RIBEIRA QUENTE


Devido ao fenómeno eruptivo ocorrido em 1957/58, na ilha do Faial, surgiu dentro da Comunidade Açoriana da América do Norte um grande movimento de solidariedade humana.
Este movimento não tinha, em primeiro plano, como finalidade, o costumeiro hábito de angariação de roupas, géneros alimentícios ou grande verbas em dinheiro, mas sim, procurar, dentro da sua limitada capacidade de influência sócio-política, fazer algo para que o então muito influente senador estadual pelo Estado de Massachusetts, John F. Kennedy - que viria a ser o malogrado 35.º Presidente dos Estados Unidos da América - fizesse passar na imensa câmara legislativa federal, no senado, uma Lei de Imigração Excepcional que permitisse aos atingidos pelos acontecimentos sismo-eruptivos do Faial, a concessão de um visto de entrada com fins permanentes nos Estados Unidos fora da quota que era atribuída anualmente a todo o território português incluindo o então colonial.
Dentro do contexto lógico das leis de imigração americanas, Portugal não era um país de concessão de vistos preferenciais, porque o emigrante português não era preferencialmente classificado, mas sim um emigrante que procurava recursos de sobrevivência não obtidos na sua pátria. Mas a Colónia Açoriana na América era relativamente grande, não por ter sido criada originalmente ao abrigo de leis legais, mas sim pela livre opção de fuga.
Note-se: ainda naquela altura da erupção, o número de vistos de emigração que eram concedidos anualmente a Portugal (para toda a sua extensão territorial, incluindo a colonial), era da ordem dos 300 vistos que logo eram absorvidos pelas primeiras preferências; cônjuges, pais e filhos menores, os quais, quando o chamamento não era feito por cidadão americano, natural ou naturalizado, a concessão de um visto de entrada podia levar alguns anos.
Mas, embora não sendo a Comunidade Açoriana da América uma grande comunidade de lingua portuguesa dentro do imenso espaço linguístico da América, na verdade, nas zonas de maior densidade de gente nossa como por exemplo nas cidades de New Bedford e Fall River, onde a comunidade mais se identificava, já existiam então algumas influências políticas de origem açoriana, ou mista, que abiam ir buscar ao lugar certo, uma mão caridosa para certas situações relevantes.
Os órgãos de comunicação social falada ou escrita, como o então diário "Portuguese Daily News", deram a necessária dimensão da tragédia e, de tal modo o fizeram, que atá o "Standard Times" - grande jornal que se publicava duas vezes diariamente, em New Bedford - também se envolveu no acontecimento por ester perfeitamente dentro daquilo que significava a comunidade de língua portuguesa naquela sua área.
Devido à intercessão do então senador John F. Kennedy, não só os sinistrados dos Capelinhos vieram a usufruir de fáceis vistos de entrada naquele imenso país americano, como também todos os cidadãos do território português. É que, dali avante, o número de vistos anuais não consumidos pelos países desenvolvidos da Europa, passaram a ser proporcionalmente divididos por nações como Portugal, Itália e Grécia, países nunca beneficiados pelas leis de imigração americanas.
Como já foi referido, desde há muito, ou pelo menos desde fins dó século XIX, existia em New Bedford, um número significativo de filhos da Ribeira Quente e descendentes destes, alguns já cruzados com gente de outras origens.
De certo modo estavam quase circunscritos à parte sul desta cidade americana, mais precisamente entre a Rua Rivet, a norte, a Cove Road (estrada) a sul, County Street a nascente e Crapo Street a poente.
Esta zona citadina ainda na década de 50 era uma zona profundamente delapidada, onde existiam muitas habitações em estado de ruína.
Porque o povo do lugar da Ribeira Quente de forma alguma vislumbrava algo que no futuro pudesse vir a alterar a sua difícil situação social, aproveitando a oportunidade da concessão de fáceis vistos para as antigas cartas de chamada, que jamais podiam ter sido váliadas se não tivessem acontecido as ocorrências do Faial, por essa razão foi emigrando, como o fizeram então muitos açorianos.
Notoriamente, a sua fização na América, foi sendo feita na zona atrás mencionada, mais precisamente nas ruas Independent, Katherine, Winsor, Mosher, Division, Jouvette e Nelson, ruas estas enquadradas nos quarteirões existentes entre as ruas e estrada atrás mencionadas.
Esta foi sendo lentamente recuperada; muitos dos imigrantes oriundos da Ribeira Quente fizeram-se proprietários de casas; alguns estabeleceram-se com comércio de produtos do mar, mas depois também de outros.
Nota curiosa: foram aparecendo nesta área alguns pequenos quintais que tinham sido jardins desde há muito abandonados. O pé de milho, a couve e a salsa, eram o bilhete de identificação de origem!
Como já foi referido, no ano de 1965 a população desta freguesia havia atingido o ponto culminante da sua história populacional, 2.421 habitante.
Era a maior densidade por quilometro quadrado nos açores.
Cinco anos depois, devido ao fluxo migratório, a sua população já era da ordem dos 1.861 habitantes. Tinha perdido, este pequeno meio, 560 pessoas.
Depois disto, e já no recenseamento feito no ano de 1991, aparece a população desta localidade drasticamente reduzida para apenas 998 pessoas.
Este vultuoso desmembramento do corpo social de modo algum prejudicou a vida económica desta comunidade; pelo contrário, tornou-se a correcção certa de uma coisa que estava humanamente mal, a de ter a Ribeira Quente, que era um restrito espaço, muitíssima gente a mais.
Materialmente nada perdeu este povoado. Socialmente, também não. Antes pelo contrário, como se veio a verificar, este acontecimento foi algo como um ajuste concedido por acção divina: quem partiu melhorou substancialmente a sua vida; quem ficou veio a verificar que, por razões óbvias, muita coisa se alterou significativamente em prol da Ribeira Quente por motivo da reocupação das casas abandonadas.
A Igreja de São Paulo perdendo paroquianos não os perdeu, porque nasceu um forte elo de ligação que deu continuidade ao apego dos ausentes ao seu padre e à sua igreja, mantendo esse laço de amizade sempre forte e indestrutível.
E isto é uma indesmentível característica do povo da Ribeira Quente.