Blog sobre a História da Freguesia da Ribeira Quente, Concelho da Povoação, Ilha de São Miguel - Açores.
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
TRAGÉDIA DE 31 DE OUTUBRO DE 1997
Neste ano de muitas calamidades públicas por todos o Mundo, devido a acções provocadas pela Natureza, esta Ilha de São Miguel sofreu um dos mais longos períodos de chuvas de sempre.
Os solos encharcados foram cuspindo terras que se soltavam, daí os muitos descorrimentos que se deram, alguns de muita gravidade.
Também na Ribeira Quente, na noite de 31 de Outubro de 1997, entre as 3 e as 3 horas e 30 minutos, desprenderam-se das rochas altas volumosos bocados de terras encharcadas que, deslisando vertiginosamente encosta abaixo, vieram arrasar zonas da parte antiga desta localidade, soterrando sob as mesmas, 29 pessoas que dormiam nos seus lares.
Quer pela grandeza das matérias descidas, quer pelas mortes e prejuízos causados, depois do ano de 1630 este foi o mais trágico acontecimento histórico ocorrido na Ribeira Quente.
Os órgãos de informação moderna, como a televisão, deram-lhe a dimensão necessária e muita mais, por isso se criou um imenso movimento de solidariedade humana jamais igualado nos Açores e, por via disso, foram nascendo outros actos de solidariedade humana até mesmo fora dos Açores e país.
Do outro lado do Atlântico, como não podia deixar de ser, os açorianos criaram outros movimentos de angariação de auxílios porque, na realidade, o nível de vida por lá (América e Canadá) era de poder equilibrado, os auxílios foram crescendo de uma forma relativa e muita válida.
Vinte e nove mortes num pequeno aglomerado como a Ribeira Quente, foi algo de muito dramático e chocante.
Entre os vinte e nove mortos, contaram-se:
César Furtado Carvalho, de 76 anos e sua esposa Maria da Glória Pimentel Rego, de 71 anos;
João Vieira de Melo Peixoto, de 67 anos, sua esposa Idalina Cardoso de Melo, de 63 e o filho Helder de 22 anos;
Maria Elvira Correia Pimentel Pacheco, de 36 anos, e seus filhos Magno Filipa, de 16, Carla Patrícia de 18, Leandra Sofia de 7, e Hugo André de 10 anos;
Maria Helena de Melo Peixoto, viúva de 39 anos, morreu juntamente com seus filhos Pedro Miguel de 13, Milton César de 14 e Diogo Alexandre de 8, e ainda um sobrinho desta viúva, que residia em sua companhia, de nome Paulo José da Silva Costa, de 33 anos de idade;
Maria Gilda Costa Vieira, de 62 anos, seu marido José Tavares Ferramenta, de 64 e seu filho Fernando Luís Costa Tavares, de 24, estes últimos, ambos coveiros da freguesia da Ribeira Quente;
Ângelo Couto Linhares, de 64 anos;
António Leite Medeiros, de 50 anos;
Maria de Jesus Linhares Cardoso, de 31 anos e suas filhas Sofia Linhares Cardoso, de 6 anos e Alexandra de apenas 3 semanas;
Aida Maria Amaral Xavier Rosonina, de 26 anos e sua filha Simone Xavier Rosonina, de 2 anos;
Manuel Rosonina e sua esposa Zulmira Oliveira Silva, ambos de 59 anos de idade;
Ilda de Jesus Gonçalo, de 75 anos e sua neta Tatiana Barbosa Vieira.
Porque era noite fechada e tudo se havia consumado em fracções de minutos e nada indicava estar iminente qualquer acontecimento de tamanha natureza, visto que a zona dos corrimentos, no percurso de 367 anos históricos, nunca tinha sido considerada zona de perigo - embora o perigo e os riscos estejam em toda a parte - quaiquer socorros prestados não podiam ser imediatos nem obstariam a que fosse consumada tamanha desgraça.
Completamente isolado, o povoado da Ribeira Quente por efeitos da tempestade, quer por terra quer por mar - visto que os taludes que suportam a modesta estrada (única) de acesso assentam parcialmente sobre o leito da ribeira - tanto os corrimentos de barreiras descidos sobre esta, como os cortes feitos pela mesma devido à força do caudal, contribuiram para que parte destes socorros fossem insuficientes e demorados.
O paredão feito no porto de pescas da Ribeira Quente devido a pressões e aproveitamentos já mencionados, embora fosse insuficiente para quaisquer auxílios vindos do mar, havia cedido a uma tempestade ocorrida a 25 de Dezembro de 1996.
Sem estrada, sem porto de mar, sem telefones nem luz, numa altura tão alucinante, ficou o povo desta localidade em muito mais abandono do que aquele que sofria antes de 1940.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário