quinta-feira, 28 de agosto de 2008

PADRE JOSÉ JACINTO DA COSTA

No ano de 1940 deu entrada na Paróquia de São Paulo desta localidade o mais eficiente pároco até então ali entrado em matéria de auxílio social-burocrático, isto a 1 de Dezembro. O Rev. Padre José Jacinto da Costa, tinha sido nos últimos três anos Vigário Cooperador do Padre Ernesto Jacinto Raposo, pároco da Igreja Matriz de Nossa Senhora Mãe de Deus da Vila da Povoação e Ouvidor Eclesiástico do Concelho.

Como tem sido dito ao longo deste trabalho histórico, o povo da Ribeira Quente sempre esteve sociologicamente dependente dos seus párocos a fim de resolver certas situações burocráticas, não só pela razão do seu isolamento mas também. por outras razões óbvias. Por essa razão, os padres nomeados para esta paróquia, autónoma ou não, geralmente vinham da Povoação.

Metódico e grande observador, este sacerdote não só se dedicou aos trabalhos das suas obrigações espirituais, mas sim, também e, de uma maneira muito acentuada, à imperiosa missão de ajudar o povo da Ribeira Quente a safar-se da sua maneira de ser profundamente subserviente e conformado.

Pelo modo do seu comportamento, pela maneira como o povo aceitava a sua acção de solidariedade, este sacerdote logo passou a ser estimado pelo povo.

Embora não há muito colocado nesta localidade, o Padre José Jacinto da Costa que o povo da mesma chamava de O SENHOR PADRE "MINSINHO" (Mansinho dos Mansinhos de Vila Franca), logo reparou que estava perante um povo pobre, modesto, mas de forte sentimento religioso-humano que necessitava ser esclarecido acerca não só das suas obrigações sociais mas também dos seus direitos sociais-humanos. Por essa razão, ao tomar conhecimento de uma arbitrariedade imposta pelo município da Povoação, o de pagar 7% sobre todo o peixe apanhado, com a taxa de ocupação do barracão da discórdia, já antes mencionado, mas que nunca havia sido usado pelos pescadores desde o ano de 1936 porque o seu sistema tradicional de venda continuava a ser, como sempre o foi historicamente, feito à beira dos barcos, o Padre Mansinho deslocou-se propositadamente a Ponta Delgada, onde contactou no Governo Civil o seu então Secretário, Dr. José Bruno Carreiro, o qual pôs a par de férulo imposto que desde a data atrás mencionada agravava muito substancialmente a vida dos pescadores, que já arcavam com o tradicional dizimo estatal de 10%.

Posto pelo Dr. Bruno o assunto ao então Governador Civil do Distrito, o Capitão Rafael Sérgio Vieira, este achou que o mesmo assunto devia ser oficialmente feito pelos pescadores ao Ministério da Administração Interna.

Em nome dos lesados, foi o Padre Mansinho quem fez a exposição que seguiu para Lisboa, a qual era encabeçada com a assinatura de António Inácio Flor de Lima, um dos homens conceituados da Ribeira Quente.

Depois do andamento do processo o Dr. Bruno para confirmar a recepção, escreve:

"Janeiro de 1941. - Exm.º Snr. Acusando a recepção da carta de V. Ex.ª de 24 do corrente, venho comunicar-lhe o caso da exigência de taxa aos pescadores pelas áreas ocupadas pelo peixe que são obrigados a levar aos Mercados Municipais foi submetida à apreciação do Ministro do Interior. Logo que seja recebida informação, comunicá-la-ei ao senhor Padre José da Costa, que veio a este Governo Civil tratar este assunto. Julgo por isso desnecessário apresentar neste momento reclamações às Câmaras".

Visto tratar-se de um rendimento que os municípios bem necessitavam, fossem estes de carácter férulo ou não, o município ressentiu-se, mas os pescadores deixaram de pagar o imposto, não só porque não necessitavam do referido barracão, mas porque, por ironia, desde há muito este estava a servir de caserna aos militares ali aquartelados (estávamos no período da II Guerra Mundial).

Nesse mesmo ano de 1941, porque o povo da Ribeira Quente continuava a fazer parte da Freguesia de Nossa Senhora Mãe de Deus da Vila da Povoação, os eleitores deste povoado tiveram de ir cumprir a sua obrigação de votantes políticos àquela sede de concelho. Porque não haviam transportes nem públicos nem particulares na localidade e o mar não estava de feição, foi o Padre Mansinho quem resolveu a situação recorrendo ao já citado Governador Civil, o Capitão Sérgio Vieira, o qual conseguiu que uma camioneta militar ali fosse buscar, em desdobramento, os 250 eleitores da Ribeira Quente e, de volta trazê-los, depois de cumprido o dever de votantes.

Por sua vez, como sempre, a mulher da mala do correio, a já cansada Maria Arraia do "Caminho do Redondo" e, depois de entregue o saco da correspondência na camioneta dos transportes públicos que passava lá na apertada curva, descia o mesmo caminho, sempre de pé nu.

Inconformado com esta e outras situações, o metódico e activo Padre Mansinho pensou em dar uma volta a toda esta inaceitável situação de falta de humanismo e civismo como era tratado o povo da Ribeira Quente, não só pelos governantes da nação como pelos governantes de ilha e do seu próprio concelho.

Pondo-se em contacto com o Rverendo Dr. Caetano José Travassos de Lima, que então era o Conservador da Conservatória do Registo Predial da Povoação - o qual tinha muita simpatia pelo povo da Ribeira Quente devido à sua religiosidade e simplicidade - estes dois sacerdotes deram essa grande volta na mediocridade governativa.

Como homem das leis, o Padre Dr. Travassos, depois de adquiridos todos os dados indispensáveis, redigiu o requerimento necessário para ser enviado ao Ministério do Interior feito em nome do povo da Ribeira Quente, o qual pedia que este povoado já com 396 fogos e uma população de cerca de 1800 habitantes, fosse feito ferguesia por justa posição e rendimento.

O Padre Mansinho encarregou-se das necessárias assinaturas e da concordância da Junta Geral do Distrito que achou justo o requerimento, o qual foi enviado ao já referido ministério a 18 de Junho desse ano de transformações, 1941.


Anos 60 - Na foto o Padre José Jacinto da Costa (Padre José Mansinho) encontra-se a segurar o Báculo (bordão de pastor) do Bispo D. Manuel.

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