quinta-feira, 28 de agosto de 2008

ANO DE 1950

Ao longo da sua história, só se notaram na Ribeira Quente duas vocações religiosas: uma foi a de João Vieira Jerónimo Junior que não chegou ao sacerdócio, e outra, a de Antero Jacinto de Melo, feito sacerdote neste ano de 1950 - no percurso do tempo, e já no findar do século passado, também se manifestaram outras vocações como a de Luis Manuel do Rego Miúdo, que chegou à Filosofia; Luis Miguel Lima, que atingiu o 5.º ano; João Linhares Costa, que atingiu só o segundo ano e Márcio Paulo Pimentel Peixoto que frequentou a Escola Apostolica Dominicana da Ordem dos Pregadores, concluindo o Secundário.
O Padre Antero foi então, depois da sua Missa Nova celebrada na sua Igreja de São Paulo, colocado no lugar da Covoada.
Depois de um longo interregno de 50 anos, neste ano de 1950 a Ribeira Quente volta a figurar nos Serviços Nacionais de Estatística, como povoado. A primeira vez ocorreu no ano de 1864, 1878, 1890, mas depois da estatística de 1900 desapareceu totalmente e só meio século depois voltou.
A 20 de Junho deste ano de 1950, desta vez como Ministro das Obras Públicas, o engenheiro José Frederico do Casal Ribeiro Ulrich, que sucedeu a Duarte Pacheco no cargo de ministro, visita a Ribeira Quente pela segunda vez. Tinha então esta freguesia 2.126 habitantes.
É o Pdre Mansinho quem descreve este acontecimento:
"Em 20 de Junho, visitou esta freguesia Sua Excelência o Ministro das Obras Públicas, Eng. José Frederico do Casal Ribeiro Ulrich, pelas dezassete horas, acompanhado de uma numerosa comitiva, por alguns engenheiros do seu ministério, tendo estudado demoradamente, "in loc", todas as necessidades desta terra: porto, bairro piscatório, muralha da ribeira do porto dos barcos e ainda a nova estrada para a praia de banhos do Fogo, certificando-se e atendendo com a melhor das atenções ao péssimo estado desta freguesia".
Esta linguagem, embora hoje nos pareça bajulatória, não o era, porque era uma linguagem quase convencional, cujo fecho redundava sempre em novas promessas por parte do lisonjeado, que raramente eram cumpridas.
Embora a necessidade de novas habitações fosse premente, nada resultou desta visita ministerial, isto é:
Não foi feito fosse o fosse no porto da Ribeira Quente; não foi feita nenhuma estrada nova entre a Ribeira e o Fogo, por isso o mar continuou a comer a terra neste percurso do litoral; não foi feito nenhum bairro piscatório nem nenhum paredão de protecção às águas da Ribeira. Por isso, foram as entidades locais, concelhias e de ilha, que deram seguros passos para que algo fosse feito em prol do povo da Ribeira Quente, porque já era grave a situação social em matéria de agregados famíliares, visto que muitos dos velhos e novos casais viviam aboletados em velhos casebres de uma só divisão.
Com dinheiros pedidos ao Fundo de Assistência, do Governo Civil, Junta Geral e Câmara Municipal da Povoação, foram contruídas oito modestas casas cuja empreitada foi adjudicada a um filho deste lugar da Ribeira Quente, ao carpinteiro Diniz de Melo Cidade.
Pouco experiente na matéria de avaliação, a sua proposta de 59.750$00 foi a mais baixa, por isso a empreitada lhe foi concedida.
Obrigado a cumprir com aquilo que estava preceituado no contrato, o mesmo teve de recorrer a um empréstimo de vinte e quatro mil escudos para poder concluir o trabalho, mas teve de emigrar para a Venezuela - ao tempo refúgio de quem ambicionava viver e sonhar - para poder satisfazer o seu grave compromisso.
Porque também o paredão da ribeira era impreterivelmente necessário, foi feito, o mesmo, neste mesmo ano. Embora rudimentar, porque a matéria ciclópica foi assenta sobre velhos alicerses de pedra e barro com mais de 50 anos de existência, este então monumental empreendimento foi adjudicado pela importância de trazentos e sessenta e oito contos (368.000$00), a um eventual empreiteiro das Capelas.

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