sexta-feira, 29 de agosto de 2008

ANO DE 1953

Porque a situação, após o sismo, se tornou muito grave em matéria de habitações, visto que algumas das casas demolidas não eram recuperáveis, não só pela sua péssima construção notoriamente improvisada, como também por as mesmas se situarem em estreitas veredas inclinadas, a Junta de Freguesia da Ribeira Quente insistiu com as autoridades para que fossem construídas algumas novas casas.
De um modo pouco urbano, foram projectadas vinte habitações para a zona nascente da foz da ribeira. Só seis foram erectas devido a uma comparticipação da Junta Central da Casa dos Pescadores.
Cada um dos moradores a quem foram atribuídas as casas, tiveram de entrar com uma parte do valor da obra, pagando quatro destes cinco mil escudos e, os outros dois, quatro mil escudos.
Por sua vez também a Câmara Municipal da Povoação mandou fazer mais dez casas mais a norte destas primeiras, mas na mesma margem da ribeira.
É o meticuloso Padre Mansinho que nos transmite esse acontecimento:
"Esta empreitada foi adjudicada aos Senhores José Duarte (José da Chica), Júlio Pacheco Simões e Ângelo Dâmaso Vasconcelos da Vila da Povoação no valor de cento e setenta e cimco mil escudos (175.000$00), sendo estas dez casas comparticipadas pelas seguintes repartições de Estado...?"
As retcências ou omissão, mostram-nos que este ilustre servidor da Igreja e do povo da Ribeira Quente, não completou aquilo que tinha para dizer, mas deixou-nos perceber que havia algo que não estava bem: a falta de conexão entre as entidades responsáveis.
Nenhum dos empreiteiros tinha qualquer conhecimento de construção ou urbanização e, só um destes possuía limitados recursos financeiros.
Eram assim, ao tempo, as adjudicações de empreitadas.
Já eram decorridos cerca de sete anos desde que o paredão de protecção da zona litoral entre o porto e o prédio das Vieiras, havia sido parcialmente demolido. É que, não só tinha sido duramente atingido no ano de 1946, mas, também: pela tempestade de 27 de Fevereiro de 1952.
Embora documentalmente se fale em reconstrução na verdade o que foi feito foi uma nova construção mais entrada no lado do mar, porque o primeiro levantado no ano de 1927, desde a zona do porto ao prédio das vieiras, era pobre e sem parapeito.
Esta obra foi feita pelo mesmo empreiteiro das Capelas que construiu o paredão da margem da ribeira depois de feitas as primeiras casas. A partir do porto para poente, a sua extensão ficou com 193 metros.
Continuando neste ano de 1953 a mesma monótona vida de labor em terra e no mar, o povo deste localidade quase não sentia alteração alguma no seu dia-a-dia de sempre. A abertura dos túneis não lhe trouxe as regalias sonhadas. Continuaram a não ter transportes públicos; não havia população flutuante. Apenas em alturas de melhor sorte, maior abundância de pescado (geralmente o sazão chicharro) dava origem a que houvesse um pouco de euforia por parte dos próprios pescadores e os vendilhões locais.
Os habitués vendilhões com seirão e burro, vindos da banda do norte da ilha, também ajudavam a quebrar a monotonia de sempre.

Sem comentários: