segunda-feira, 25 de agosto de 2008

O BISPO E A SUA REACÇÃO


A 6 de Dezembro de 1775, D. António Caetano da Rocha, 21.º Bispo dos Açore, veio em Visita Pastoral - segundo aquilo que se lê nas páginas 99, 100 e 101 da "História das Igrejas em São Miguel" da autoria do Dr. Urbano de Mendonça Dias - à paroquial de Ponta Garça, e ali lamentou ter sido feita na Ribeira Quente, naquele lugar isolado pela Natureza, a Ermida de São Paulo, dizendo na sua Carta Pastoral:
"O povo da Ribeira Quente, indevidamente se tem conservado naquele lugar em que nada tem de próprio, suposto conseguisse da incomparável piedade de Sua Majestade, a concessão de Cura para aquele lugar, que se o mesmo Senhor fosse legitimamente informado, antes os faria d'ali despejar; não se devem os tais moradores considerar filhos da Paróquia, para a ela acudirem na parte espiritual, pois o Cura que tem é em subsídio para as necessidades urgentes".
Esta forte admoestação ou aviso feita por D. António - que foi mais um evidente ressentimento do, ao tempo, vigário de Nossa Senhora sa Piedade de Ponta Garça - de forma alguma foi compreendida pelo povo do lugar da Ribeira Quente que naquela altura já ia, naturalmente, na terceira geração ali nascida, muito menos podia ser entendida pelos veraneantes que só ali iam em alturas adequadas e não pertenciam àquele lugar. Além disso, já iam decorridos 110 anos desde que a mesma ermida ali havia sido feita e servia o povo daquela localidade.
Na mesma advertência, D. António ainda dizia:
"e outrosim o mesmo povo e habitantes do tal sítio sem que faltem com o devido à Fábrica da Matriz (de Vila Franca e não Ponta Garça) devem à sua custa suprir todo o necessário à dita Ermida de Sam Paulo, no que ao seu património não poder chegar, pela mesma razão de lhe estar servindo de Paróquia em comodidade sua, que se não a tiverem com decência para a celebração do alto sacrifício da missa e os seus ministérios sagrados que nela se celebram, lha mandarei interditar, e que venham à própria Paróquia satisfazer em tudo as obrigações de católicos".
Por falta de melhores conhecimentos e má informação, o mesmo insiste em chamar aos veraneantes que vinham de Vila Franca e de outras localidades, de filhos da Paróquia de Nossa Senhora da Piedade de Ponta Garça, mas logo emenda:
"Já fica dito que o povo da Ribeira Quente está obrigado a reparar a Fábrica da Ermida de S. Paulo, pois lhe serve de Paróquia subsidiária, porém não podemos deixar de reflectir na pobreza deste povo e na grande concorrência de gente de Vila Franca que vão povoar aquele sítio grande parte do ano, em que entram muitos sacerdotes, que se ocupam toda a manhã em celebrar".
Como se pode depreender das afirmações do prelado, o lugar da Ribeira Quente, pela segunda vez na sua história oculta, continuava a ser uma isolada zona de lazer, fajãs e praia, mas também já um povoado de fixação permanente.
Mal informado, quer no aspecto social-humano, quer no valor material, tanto ele como o ouvidor de Distrito Eclesiástico, desconheciam, como é obvio, por falta de informação adequada, que a terra de vinha do património da Ermida de São Paulo, como todas as fajãs que lhe ficavam nas imediações, já há muito não existiam porque o mar, passados que eram 145 anos depois da erupção que arrasou aquela localidade, jamais havia deixado de lamber a terra e fazer desaparecer aqueles solos postiços.

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