Seria utopia pensar-se que a Comunidade sedentária que se veio a formar no lugar da Ribeira Quente após o cataclismo de 1630, teve na sua formação as mesmas raízes daqueles veraneantes que desde remotos tempos, como nos afirma Gaspar Fructuoso, ali iam gozar o sossego do então abdito lugar de fajãs e praia, ou daqueles que vieram ocupar as terras daquela localidade, após a erupção.
Quer por escrito, quer pela tradição, as fajãs da Ribeira Quente jamais foram da Comunidade piscatória daquela localidade ou de alguém que cedo ali se fixasse.
Por mera suposição houve quem pensasse que a classe piscatória que se veio a formar no litoral da Ribeira Quente podia ter sido originária de Vila Franca do Campo. Mas isso seria totalmente ilógico, visto que nenhum pescador com vida formada e família estabelecido na primitiva capital desta ilha, se fixaria num então logarejo sem quaisquer recursos de sobrevivência, casa para morar e sem porto de mar, a tal se sujeitasse sem ser por imposição.
Como tudo indica, foi na segunda metade do século XVII que se vieram a notar na Ribeira Quente, e no lugar da Ribeira, aqueles que seriam, pela vida fora, chamados de Pescadores da Ribeira Quente, mas que, sem dúvida, ali foram nascendo.
Soltos dos lugares das fajãs e pomares - que eram alodiais e impreterivelmente propriedade de gente de Vila Franca, como o eram todas as então fajãs da costa sul desde esta vila à Fajã do Calhau - só existiam os solos soltos formados por aluviões e acumulação de inertes sedimentares nas duas margens da ribeira, mas mais extensos do lado poente da mesma, os quais se estendiam até à praia e à foz desta.
Esta terra de ninguèm do lado poente, larga e alongada, por isso se chamou e hoje se chama de "ESPRAIADO", pelo povo da Ribeira Quente, foi onde a primitiva comunidade piscatória desta localidade foi montando, com muita resignação, uns barracos de pedra solta de uma só divisão, sem qualquer argamassa e orientação urbana, os quais, no decorrer dos séculos, se foram tornando naquilo que hoje ali vemos devido a muitas alterações. Eram, ainda na primeira metade do século XX, estes pequenos casebres, o ex-libris para quem ali passava.
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