Assim denominada pelo povo após a grande erupção porque matérias telúricas vivas ali produziram efeitos muito espectaculares que ficaram vincadamente retratados; PONTA DA ALBUFEIRA: - Seu nome próprio na indicação geográfica, porque os corrimentos de terra e rochas descidas do alto entraram nas águas do mar e as fecharam, dando-lhe um aspecto de albufeira conforme nos diz o Licenciado João Gonçalves Homem (1), na sua narrativa do acontecimento:
"Em 4 do dito mês se desfez parte dela (matéria vulcânica), juntamente com uma serra e monte, que se chama Rosto Branco que era mui alto e estava à beira mar, levou ao mar esta rebentação de fogo, vinhas e terras entupindo com elas e pedra pomes e alagando, o mar, e fazendo nele repucho tal, que por onde barcos e navios passavam à vela, agora se passeia toda a gente a pé".
Este referido Rosto Branco - já citado por Gaspar Fructuoso cerca de setenta anos antes no seu trabalho toponímico acerca da Ribeira Quente - é o mesmo fundo rochoso que hoje se vê entre a Praia do Fogo e a Ponta da Lobeira, que era muito mais alto como nos diz o já mencionado João Gonçalves Homem.
As terras corridas do Pico das Tesouras em conjunto com os materiais piroclastos (pedre pomes), cobriram as primitivas fajãs "que davam vinho e pão", estenderam-se profundamente sobre o mar, soterrando a alongada praia que ia da Ribeira ao Fogo, formando naquele espaço terras que se tornaram muito vegetativas por isso cedo foram tomadas.
Ali nasceram sobre as mesmas terras novas fajãs "onde com não pequeno gosto" continuaram alguns dos anteriores proprietários, seus herdeiros ou outros "principais da terra", a usufruir os mesmos privilégios que já usufruíam antes os seus maiores.
Embora o Padre Doutor Gaspar Fructuoso no seu trabalho toponímico não faça qualquer referência acerca da existencia de quaisquer possíveis habitações, mesmo que muito rudimentares, no lugar da Ribeira Quente, o certo é que, quando o mesmo diz que era um lugar "ONDE COM NÃO PEQUENO GOSTO E GRANDE PASSATEMPO, FAZEM OS PRINCIPAIS DA TERRA E ALGUNS SACERDOTES E ALGUNS RELIGIOSOS (seculares e regulares), E ALGUNS ESTRANGEIROS, NO VERÃO, GRANDES PESCARIAS", está a transmitir uma clara ideia de que aquele recôndito lugar de sossego, com suas águas, sua praia e fajãs, era um primitivo lugar de veraneio, por isso tem lógica a afirmação de que quando ocorreu a grande tragédia no ano de 1630 que arrasou todo aquele lugar, ali ficaram soterrados alguns veraneantes e trabalhadores ilotas, estes nunca mencionados por não constarem nos registos paroquiais, mas os primeiros sim, visto que no total de mortos de Ponta Garça (os 115), não houveram nomes mas sim quantidades.
(1) - João Gonçalves Homem foi um dos que narraram o grande acontecimento ocorrido na zona da Lagoa Seca no ano de 1630, e suas repercussões. O seu trabalho está escrito no Volume II do Arquivo dos Açores.
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