Segundo o Volume II do Arquivo dos Açores, foram em número de dez narrativas escritas que descreveram o fenomenal acontecimento eruptivo ocorrido nas imediações do hoje chamado Vale das Furnas, no ano acima mencionado.
Embora nesses escritos existam alguns desencontros quanto ao dia da semana e hora em que tiveram início os primeiros abalos de terra que antecederam a grande erupção sísmica que viria a ser a mais violenta e mais espectacular de todas as crises sísmico-eruptíveis dos Açores, a maioria das narrativas dizem que foi por volta das oito horas e meia da noite do dia 2 de Setembro de 1630, que os referidos abalos começaram e que, à maneira que iam crescendo de intensidade também cresciam em frequência, até que, cerca das duas horas e meia do dia seguinte, 3 do mesmo mês, se deu uma tremenda explosão no lugar de uma cratera que havia sido lagoa, denominada historicamente de Lagoa Seca das Furnas, a qual explosão fez sumir as águas de uma outra lagoa que lhe ficava quase adjacente, as da Lagoa Rasa, que tinha uma profundidade aproximada de 55 metros por dois quilómetros de largura.
Já feita depois uma só boca que incluia a área das duas lagoas, o fenómeno manteve-se permanentemente activo por alguns dias, espalhando a morte, o terror, o sofrimento e a dor.
Francisco Affonso Chaves, mais tarde, viria a chamar o mesmo de acontecimento explosivo.
O Vale das Furnas - segundo os mesmos testemunhos - que era muito acidentado com profundas grotas e muitas elevações, ficou com o aspecto de uma chã aplanada, sob a qual ficarram soterrados alguns pastores nómadas e muito gado, já que ao tempo só ali existiam, a fazer vida sedentária os religiosos de uma Ordem Seráfica, os quais, desavindos, se puseram em fuga para o lado norte da ilha, deixando o eremitério sob um manto de cinzas e pedra pomes.
Alguns dos trabalhos históricos que narram a medonha erupção de 1630, são muito elucidativos porque muito narrativos em matéria de pormenores que espelham com muita clareza a razão do porquê da salvação dos frades do eremitério do Vale:
"E foi N. Senhor servido que aquelle monte assim arrancado do seu lugar para que não sepultasse (aos eremitas), debaixo de si, cahisse pra a parte do mar aonde sepultou a outros que ali se encontravam".
Depois em outra passagem:
"Ponta Garça, lugar seu vizinho, tendo 100 fogos se vio sem elles por cahirem uns e ficarem outros debaixo da cinza de mais de 30 palmos. Deste lugar morreram em diluvio de fogo 115 pessoas".
Mais tarde, Frei Agostinho de Monte Alverne, o nosso segundo historiador açoriano, autor das "Cronicas da Província de São João Evangelista das Ilhas dos Açores", também muito metódico no pormenor, no Capítulo Décimo do Volume II do seu livro, nos diz, sobre o mesmo acontecimento:
"Nos lugares da Povoação e Ponta Garça não ficou casa em pé, e na Povoação a terra noventa braças entrou pelo mar."
"Três dias inteiros choveu cinza em tanta quantidade, que em muitas partes de trinta palmos ficou a altura".
"Vindo um barco da Ilha de Santa Maria, embaraçado nela, (pedra pomes) não podendo passar, por onde foi necessário os passageiros deixarem o barco a mais de meia légua (mais de dois quilometros e meio) de mar, e virem para terra por cima dela".
Esta surpreendente extensão de pedra pomes lançada sobre o mar, no lado sul, embora nos pareça exagerada, é mencionada por outros narradores fidedignos.
Portanto, tendo o lugar da Povoação Velha e Ponta Garça, sido, segundo os historiadores, as duas zonas mais atingidas pelas matérias projectadas, é lógico acreditar que o lugar da Ribeira Quente, que lhes ficava de permeio, tivesse sido o mais atingido.
As grandes transformações que ficaram vincadamente retratadas, quer na zona da Praia do Fogo ou Praia da Albufeira quer dali à zona da Ribeira, são viva evidência deste acontecimento passado.
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