terça-feira, 26 de agosto de 2008

MURALHA DE PROTECÇÃO

Depois da morte do Padre António Jacinto de Melo, para o substituir, foi nomeado o Padre Jacinto Moniz Borges, natural de Vila Franca do Campo.
Segundo dados colhidos no arquivo da Paroquial da Ribeira Quente, de data posterior ao falecimento deste segundo servidor daquele templo, o mesmo era um homem de espírito bastante culto.
Quando colocado nesta localidade e ao ver o grau de pobreza do povo que ia ter ao seu cuidado, este se revoltou contra maneira pouco humana como a população deste povoado havia sido tratada ao longo dos tempos.
Servindo-se dos meios naturais que lhe eram facultados, tornou-se um defensor acérrimo do povo da Ribeira Quente, deste povo que sempre havia vivido esquecido no seu isolamento. Os órgãos de comunicação social escrita, na qual colaborava periodicamente, foi uma das vias escolhidas para manifestar o seu desagrado ao egoísmo e egocentrismo de certos governantes. O "Autonómico", que se publicava em Vila Franca do Campo, foi um dos jornais escolhidos, assim como o "Aurora Povoacense", visto se tratar de dois jornais que se publicavam, o primeiro na sede burocrática-religiosa, e o segundo por se publicar na sede burocrática-administrativa a que a Ribeira Quente estava sujeita.
Como anteriormente foi dito, toda a vida social da localidade da Ribeira Quente era observada pelos guias espirituais porque se tratava, quase na sua totalidade e até determinada altura, de um povo totalmente inculto como o era em outras partes que não sofriam do mesmo isolamento. Por isso, não só os acontecimentos religiosos eram registados nos registos paroquiais, como por vezes, outras ocorrências e acontecimentos extra-paróquia eram averbados nos livros de assentos, voluntariamente.
Já quando o Padre António Jacinto de Melo paroquiava esta localidade de gente humilde, a situação do seu templo era precária, em relação ao mar que lhe batia em dias de mau tempo, sem que os paroquianos e seu pastor o pudessem socorrer.
Embora desde há muito fosse do conhecimento dos governantes a triste situação desta localidade, nenhuma medida de precaução foi tomada atempadamente, que obstasse a que o mar não fosse pondo em perigo já visível, toda aquela área de penetração marítima. Só quando já nada se podia fazer nem evitar é que, num acto de contrição - embora sabendo que o lugar da Ribeira Quente só era acessível por mar - a então Junta Geral do Distrito mandou fazer uma muralha de "protecção" para quebrar o ímpeto do mar.
Mas a Ribeira Quente, quer dentro do povoadao quer no acesso a ele, só possuía modestos atalhos de movimentação humana e animal, por isso na construção dessa muralha só pôde ser usado o musculado braço do homem; os tradicionais sachos, cestos e picaretas. Por essa razão, aquilo que então ali foi feito, foi uma iniludível eructação de desabafo.
Esta muralha partia da boca da "Rua Direita" até ao "Foral do Ouvidor" que ficava em frente do prédio que havia sido do doador dos sinos para a segunda Igreja, o já citado Joze Matheus Nogueira, o qual prédio depois de ter sido vendido a Ilário Félix Barbosa de Gusmão (sem dúvida de Vila Franca do Campo), veio a ficar na posse dos herdeiros de Francisca Vieira de Lima (Tia Chica Vieira).
Larga mas não segura, visto que o fundo em que assentava não era de formação nem a Ribeira Quente então possuía qualquer pedreira de onde se pudesse extrair e conduzir mecanicamente, por falta de caminhos, quaisquer blocos de pedra de apropriada dimensão.

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