quarta-feira, 27 de agosto de 2008

ANO DE 1931

Em Janeiro deste ano de 1931, veio substituir o Padre José Luiz Borges Vieira na paróquia, o Padre João de Medeiros, natural da Vila da Povoação.
Profundamente ciente das necessidades do povo da Ribeira Quente, como os seus antecessores, teve de procurar minimizar o sofrimento desta gente ainda na mesma situação de sempre - o padre era o directo e indirecto interlocutor entre as autoridades governativas e o povo, porque fazia parte das suas obrigações humanas.
No campo espírito-material, é no percurso do seu tempo como pároco, que o templo de São Paulo passa pelas maiores transformações desde a sua bênção e inauguração em 1917.
Foi alargada a sacristia do lado nascente, que era estreita, dando origem à, ainda hoje larga sacristia, seu acesso posterior e cave.
A bancada foi totalmente alargada por toda a nave da igreja, porque antes, além de ser modesta, só cobria parte da mesma.
A Capela-Mór não tinha cadeiral, mas foi feito, como também foi feito um altar do lado epistolar - que só veio a receber a sua primeira imagem no ano de 1949.
Além da escadaria de acesso à sacristia, exteriormente foi feito o revestimento em argamassa de cimento e areia dos dois alçados laterais, porque, até àquela altura, as suas paredes não eram revestidas mas sim, na linguagem do povo, paredes cruas.
Segundo documentação comprovativa, foram os pescadores, desta vez com meio quinhão dos barcos, embora fossem bastante pobres, quem pagou estes empreendimentos, à medida que, por ironia, o povoado ia empobrecendo devido ao crescimento da população e à falta de recursos de subsistência de que o lugar padecia.
Nessa altura a população da Ribeira Quente já era superior à da do Faial da Terra e da de Água Retorta mas ainda não possuía quaisquer caminhos de acesso para fora do povoado, além dos rudimentares já citados; nem água potável nem iluminação pública, embora a central produtora lhe ficasse logo mais acima na "Ribeira dos Tambores"!
Só tinha uma escola primária improvisada numa casa particular do lado nascente da ribeira e, já no começo da falésia da "Ponta do Garajau", um posto de correio também improvisado num pequeno estabelecimento comercial junto do litoral, cujo vencimento do seu proprietário era uma pequena percentagem que lhe era concedida pela venda de selos; mas cabia-lhe também, por imposição, ter de fazer chegar o saco do correio, ou mala do correio, como o povo a chamava, à curva da estrada onde nascia o "Caminho do Redondo", a fim de ali apanhar a carreira regular que por ali passava todas as manhãs, por volta das sete e pouco da manhã.
Esse doloroso trabalho era feito por uma pobre mulher casada, com filhos, a troco de meia dúzia de escudos mensais, visto que seu marido, pescador (António Fanha ou António Povoação), nem sempre tinha sorte no mar.
Foi nesta situação de atrofiamento e miséria que o povo da Ribeira Quente foi atingido por uma das maiores catástrofes sísmicas de sempre.
A 5 do mês de Agosto do ano seguinte, 1932, toda esta ilha de São Miguel foi sacudida, devido a um abalo de origem tectónica - falha Açores-Gilbraltar, hoje muito conhecida pela ciência - de tão forte magnitude, que fez ruir, a partir do estremo de Ponta Garça, todas as casas da Lomba do Cavaleiro, muitas da Lomba do Carro e outras na faixa entre aquela localidade de Ponta Garça e Faial da terra. A Ribeira Quente, embora de permeio, estatisticamente não é mencionadaembora tivesse sido bastante atingida.





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